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domingo, 12 de março de 2017

DISCUTINDO A EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA E EVASÃO

TRECHO DO ESTUDO:

     PANORAMA SITUACIONAL DA REALIDADE ESCOLAR DA COMUNIDADE                                                    QUILOMBOLA DO CAPOEIRÃO (Itabira-MG):
DESAFIOS DE UMA EDUCAÇÃO INCLUSIVA E EMANCIPÁTORIA.

                                     JHONATAN DOS SANTOS FERREIRA 

              GDE/UFMG ( MONOGRAFIA) 

“Como educadores, devemos saber que apesar da lógica da razão ser importante nos processos formativos e informativos ela não modifica por si o imaginário e as representações coletivas que se tem do negro e do índio na nossa sociedade.”
Kabengele Munanga,2005



RESUMO
Este trabalho tem por objetivo desenvolver uma análise das dinâmicas raciais no processo de escolarização dos educandos quilombolas da comunidade do Capoeirão/ Itabira.MG levando em consideração os fatores desafiadores da efetivação do direito à uma educação inclusiva e emancipatória, além de analisar os fatores que caracterizam a inserção educacional dos membros da comunidade do Capoeirão,  buscando compreender como a questão racial, o sucesso e insucesso escolar se relacionam à dinâmica de educação escolar adotada. Identificando também a partir de relatos dos alunos egressos, docentes e pais, como os membros da comunidade quilombola do Capoeirão/Itabira. MG vivenciam o processo de escolarização, aproximando da realidade escolar e compreendendo se na escola que atende a comunidade quilombola são desenvolvidas ações, projetos de intervenção pedagógica conectados aos pressupostos da LEI 10.639/03.

Palavras chave: Escolarização. Inclusão. Emancipação. Quilombola. Lei.10.639/03.Fracasso escolar.

 APRESENTAÇÃO
A ideia do desenvolvimento de um estudo acerca da Educação Escolar Quilombola surgiu pela minha proximidade com a temática, militância e atuação no setor educacional também  pela minha ascendência quilombola. Os desafios vivenciados pelos moradores da Comunidade  Quilombola do Capoeirão de modo especial a vivência e experiências dos adolescentes e jovens educandos.
O objetivo foi buscar aproximar da realidade de escolarização e entender os caminhos que levaram alguns alunos ao fracasso escolar e a não conclusão do ciclo de estudos. Aproximamos com isso, com um dos temas que mais me aproximei no curso do GDE/UFMG, Gênero e diversidade na escola quando discutimos as relações étnico raciais e seus contextos no ambiente escolar.
 Esse foi o tema propulsor para tecermos ideias e buscarmos referenciais para debatermos a cerca de politicas educacionais para a promoção da igualdade e diversidade racial. Fui provocado a repensar os modelos de educação e como alguns destes modelos podem deixar sequelas o que chamamos de marcas da in(diferença).
Subsidiado pelas bibliografias:
A obra Relações étnico-raciais e Educação no Brasil dos organizadores; (Marcus Vinicius Fonseca, Carolina Mostaro Neves da Silva e Alexsandra Borges Fernandes) publicada no ano de 2011 pela editora Mazza, apresenta discussões importantes para o debate proposto neste trabalho de pesquisa. A obra estabelece uma releitura do papel da escola pautada na LDB no que se refere aos dispostos da inclusão e do plano avaliação dos CBC (currículo básico comum) em consonância com politica que prevê uma educação emancipatória, flexível e participativa para as comunidades quilombolas e /ou oriundas do campo, indígenas e ribeirinhas.
O livro Educação das relações étnico-raciais; pensando referenciais para a organização da prática pedagógica de autoria de Rosa Margarida de Carvalho Rocha (2011) traz uma reflexão a partir de referenciais para uma organização da prática politica pedagógica. Este livro oferece uma série de modelos de avaliações possíveis para a análise de como se tem dado a implementação da Lei 10.639/2003, assim como sugestões de avaliações que auxiliam o investigador/pesquisador a elaborar diagnósticos da atuação dos docentes e da escola de modo a favorecer as propostas pedagógicas de temas como a identidade cultural do Brasil, com suas matrizes afro e afro brasileiras. O livro dispõe de um capitulo destinado à proposta de projetos, oficinas e sensibilização.
      Consideramos pertinente também referenciarmos ainda o livro “Marcas da diferença no ensino escolar” de autoria do organizador Richard Miskolci, material referência adotado no curso do GDE[1]–UFMG na edição 2014-2015.De modo específico delimitaremos ao estudo do capítulo 4 que trata em suas respectivas partes dos temas a saber; Relações étnico-raciais e a educação (parte 1), O processo de construção e reconhecimento das diferenças étnico-raciais ( parte 2), O cotidiano e o futuro da educação brasileira ( parte 3).
Destacamos ainda artigos e periódicos que contribuem para a reflexão das politicas educacionais inclusivas, tais como: Relações étnico-raciais, educação e descolonização dos currículos da autoria de Nilma Lino Gomes- UFMG (2012), pesquisadora e relatora do parecer CNE ao que tange as Diretrizes curriculares nacionais para a educação escolar quilombola, além do artigo: Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre as relações raciais no Brasil: uma breve discussão.(2005) que traz reflexões pertinentes as aplicações dos termos imbricados ao discurso racial, tais como, raça, identidade, racismo, etnia e entre outros.
O artigo Educação escolar quilombola em Minas Gerais: entre ausência e emergências de autoria de Shirley Aparecida de Miranda, da Universidade Federal de Minas Gerais (2012), vai ao encontro ao tema desta pesquisa. A autora resgata os desdobramentos e embates da implementação da lei 10.639/03, assim, como recorre aos pareceres e leis vigentes para desenvolver no seu texto a discussão sobre o direito ao acesso à educação escolar quilombola. Shirley Aparecida de Miranda fala, dos grandes fatores que vem a dificultar a implementação da lei e as ausências e emergências de politicas públicas educacionais mais eficazes nesse contexto.
O artigo Politicas educacionais, igualdade e diferenças, de Miguel G. Arroyo (2011) também vai ao encontro das discussões e questões propostas para essa pesquisa, pois dialoga com as realidades e embates no setor educacional trazendo em seu estudo a relevância de politicas publicas educacionais para a consolidação de uma educação que  seja capaz de incluir, emancipar e dar ao individuo condições de ser sujeito.  Abre, contudo, um campo reflexivo levando em consideração a temática da inclusão de grupos que estão á mercê da sociedade e que são vistos como indiferentes e inferiores no setor educacional, entre esses, dá-se espaços para pensarmos na escolarização de alunos negros, de classe baixa, do campo e indígenas.
          Como principio norteador e fundamentação legal, dialogamos, ainda, para a construção deste trabalho com o Parecer CNE/CEB nº 16 aprovado em junho do ano de dois mil e doze. Esse documento trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola. Também consideramos a LDB (Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional 8ª edição do ano de dois mil e treze) o PNE (Plano nacional de Educação em processo de reestruturação de suas metas e ações) e o Estatuto da Igualdade Racial publicado no ano de dois mil e onze. Ainda, no campo legal, referenciamos as Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico- raciais e para o ensino de história e cultura Afro-brasileira e Africana (2004). Essas diretrizes, são orientações para o cumprimento da lei 10.639/03.
Para a abordagem do conceito de fracasso escolar utilizamos como referenciais o artigo; A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia de autoria de Maria Helena Souza Patto (1996). O artigo problematiza as questões históricas do fenômeno do fracasso escolar como sendo esse marcado pelos quesitos territoriais e étnicos.
 O artigo de autoria de Marília Pinto de Carvalho; O fracasso escolar dos meninos e meninas: articulações entre gênero cor/raça (2004). Este artigo suscita as articulações do fenômeno do insucesso e fracasso escolar buscando como referencial a visão e experiências cotidianas de duas professoras, trazendo com isso, elementos e implicações que são ligadas à raça/cor e gênero como princípios que contribuem para as relações de conflito e fracasso escolar. Esse estudo vem de tal modo contribuir para refletirmos acerca da classificação dos sujeitos no processo de escolarização e percebermos como o fator raça/cor é forte pressuposto para a justificativa das diferenças nas realidades escolares.
Dialogamos também com o artigo de Otacílio de Oliveira Jr. e Marco Aurélio Máximo Prado intitulado; A categoria juventude em contextos rurais: O dilema da migração(2010) para abordar a questão migratória em relação com o acesso à educação. O referido artigo traz a discussão do fenômeno migratório como recurso utilizado para o enfrentamento das diferenças causadas pelas oportunidades que o campo não oferecem, isso, agregado também a outros fatores que são justificados ao longo do estudo sobre a migração de jovens que partem em busca de melhores condições de vida. Esse artigo vai ao encontro da problemática e entrave apresentado nessa proposta de estudo quando apresentamos a migração como forma de representação da tentativa de reverter às desigualdades sociais atribuídas as comunidades negras e quilombolas.
Adotamos também como referencia o artigo: Diversidade étnico –racial no Brasil: os desafios à Lei nº 10.639 de 2003 de autoria de Rodrigo Ednilson de Jesus (2013). Esse artigo, retrata justamente as implicações e desafios frente ao sancionamento da lei e busca refletir quais os passos necessários para uma reavaliação do processo de implementação dessa lei , inclusive ao que diz respeito à formação dos professores e profissionais da educação.
O livro; Raça, cor e diferença, a escola e a diversidade, organizado por Wilma de Nazaré Baia Coelho e Mauro Cezar Coelho(2010) contribui para o debate sobre perspectivas para a construção da promoção da igualdade racial na educação ao fazer uma retrospectiva e releitura do papel da escola no que tange ao fomento da educação para a diversidade. A obra abrange a concepção do mito da democracia racial fundamentada pela justificação fenotípica atribuída ao conceito de raça, o que fundamentou mais tarde o conceito de miscigenação. As análises presentes nessa obra explicitam também o desafio do reconhecimento social e do acesso a direitos das comunidades negras e quilombolas, assim como as implicações das ações afirmativas para a conquista desses direitos, sejam eles no campo social e educacional. Atribuem concomitantemente o legado da ação política da militância do movimento negro no Brasil como protagonista dos avanços e reflexões sobre o papel do negro na sociedade brasileira e sua escolarização.

 1 INTRODUÇÃO
A pauta da educação escolar quilombola, apesar de relevantes estudos, já desenvolvidos, tem recebido na sociedade atual lugar de segundo plano, isso associado à grande resistência em se efetivar as políticas públicas educacionais. Ao recorrermos à pauta e temas de direitos da população negra e oriundas das comunidades remanescentes e quilombolas, enfrentamos a invisibilidade e o ocultamento dos direitos e demandas dessas comunidades. Ainda sobre o fenômeno do ocultamento, Fernandes cita:
O ocultamento da diversidade no Brasil vem reproduzindo, tem cultivado, entre índios, negros, empobrecidos, o sentimento de não pertencer à sociedade. Visão distorcida das relações étnico-raciais vem fomentando a ideia, de que vivemos harmoniosamente integrados, numa sociedade que não vê diferenças. Considera-se democrático ignorar o outro na sua diferença. (FERNANDES, p.26).
 A negação e restrição de direitos da população negra no Brasil carregam em si uma trajetória histórico cultural, ocultada pelo mito da democracia racial, cujo próprio nome remete à ideia de que a democracia para a população negra e quilombola não vem a ultrapassar uma conotação mitológica. Esse mito pode ser entendido como parte do pressuposto de haver no Brasil ampla harmonia entre os diversos grupos étnicos, disso, ele é fundamentado pela falsa equação racial, baseada também, pelos entendimentos errôneos dos termos mestiço e mestiçagem.
Na realidade, a interpretação dessas terminologias aplicadas à luta pela igualdade, veio a maquiar a real situação do negro no Brasil. A intenção por detrás desse mito, vai ao encontro da falsa sensação de apagamento das indiferenças motivadas por questões raciais, onde, a mestiçagem foi o subterfúgio que fundamentou e enraizou o mito da democracia racial.
O cenário atual, ainda há sinais das militâncias da luta por direitos igualitários, de fato, o Brasil ser um pais mestiço não pressupõe e não significa que haja direitos e democracia assegurados à população negra, o que não abre margem para afirmarmos que nosso no nosso país não há mais racismo e preconceito.
A esse respeito Silvério cita:
“O mito da democracia racial induzia à crenças de que no Brasil as desigualdades não possuíam componentes raciais e que nessa mesma sociedade as relações raciais estabelecidas no passado colonial tinham sido amenizadas , dadas as características do intercurso sexual responsável pela miscigenação...” (SILVERIO, p.136-137, 2010)
Diante desse cenário e com os constantes casos de evasão, repetência e fracasso escolar dos educandos da comunidade quilombola do Capoeirão – Itabira, Minas Gerais, urge a necessidade do desenvolvimento desse estudo que teve como pressuposto buscar compreender tais fenômenos supracitados, refletindo os embates e discursos que baseiam-se na oferta de uma educação escolar capaz de fomentar a emancipação e inclusão desses educandos o que é previsto nas diretrizes de caráter mandatório e ratificada no território brasileiro pelo Decreto legislativo nº 143/2003 e do Decreto nº6.040/2007, que em suas linhas gerais instituíram a Politica Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades tradicionais ondem visam:
III. assegurar que as escolas quilombolas e as escolas que atendem estudantes oriundos dos territórios quilombolas, considerem as práticas socioculturais, políticas e econômicas das comunidades quilombolas, bem como os seus processos  próprios de ensino –aprendizagem e as suas formas de produção e de conhecimento cientifico.
IV- Zelar pela garantia do direito à Educação Escolar Quilombola às comunidades, quilombolas rurais e urbanas, respeitando a história, o território, a memória, a ancestralidade e os conhecimentos tradicionais.
( Parecer CNE/CEB nº 16 de 2012, p.5)
Diante disso, esse estudo: Panorama situacional da realidade escolar da comunidade quilombola do Capoeirão ( Itabira-MG): desafios de uma educação inclusiva e emancipatória propôs em suas linhas gerais fazer a leitura de como o não comprimento das politicas educacionais embasados na Lei 10.639/03 e os entraves do ocultamento e da invisibilidade dos educandos oriundos dessa comunidade quilombola, vem fortemente influenciando nos casos de evasões, reprovações e fracassos escolares, ocasionando a não conclusão do ensino fundamental e/ou médio.
Justificamos o desenvolvimento desse estudo , tendo em vista que discutir as questões de direitos igualitários, tais como; acesso à educação, saúde, moradia e entre outros, são garantias previstas na Declaração Universal dos Direitos Humanos, também, assim agregados a esses direitos supracitados, fez-se necessário discutirmos o papel da educação e a garantia da educação escolar quilombola em consonância com os embasamentos legais, sendo estes; a LBD, o Estatuto da Igualdade Racial, a Lei 10.639/03,e o parecer CNE (Conselho Nacional de Educação) a tratar da elaboração das diretrizes curriculares nacionais para a educação escolar quilombola, onde se assegura de acordo com tais Diretrizes para a oferta e garantia da educação básica:
A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida em unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura, requerendo pedagogia própria em respeito e especificidade étnico cultural de cada comunidade e formação específica de seu quadro docente, observados os princípios constitucionais, a base nacional comum e os princípios que orientam a Educação Básica brasileira. Na estruturação e no funcionamento das escolas quilombolas, deve ser reconhecida e valorizada sua diversidade cultural. (p.42 – Diretrizes curriculares nacionais para a educação básica).

O presente estudo teve como marco os principais objetivos; desenvolver uma análise das dinâmicas raciais no processo de escolarização dos educandos quilombolas da comunidade do Capoeirão/ Itabira.MG levando em consideração os fatores desafiadores da efetivação do direito à uma educação inclusiva e emancipatória. Além de contribuir para a observação dos fatores que caracterizam a inserção educacional dos membros a comunidade do Capoeirão buscando compreender como a questão racial, o sucesso e insucesso escolar se relacionam à dinâmica de educação escolar adotada.
Identificando também a partir de relatos dos alunos egressos, como os membros da comunidade quilombola do Capoeirão/Itabira. MG vivenciam o processo de escolarização, e com isso, conhecendo as percepções de membros da Comunidade do Capoeirão que concluíram o ensino fundamental na(s) escola(s) (Escola Municipal Antônio Camilo Alvim.) sobre seu processo de inserção escolar. Compreendendo por último, se na escola que atende a comunidade quilombola são desenvolvidas ações, projetos de intervenção pedagógica conectados aos pressupostos da LEI 10.639/03.
Com isso, trouxemos no primeiro capitulo uma abordagem do discurso racial no intuito de referenciarmos a pauta da igualdade racial e diversidade tendo como norte os caminhos, avanços e desafios condicionantes a esse discurso.  Ainda nesse capitulo, fazemos menção aos caminhos metodológicos que aplicamos para a concretização desse estudo para que posteriormente pudéssemos trazer a implicação da Lei 10.639/03 e concomitantemente aprimorando o ideal de pertença e identidade do povo negro que é trazido pela educação, sendo essa última, protagonista da formação da identidade.
No segundo capitulo desse estudo, reservamos um espaço para tratarmos das descrições das experiências dos lócus onde se desenvolveram os trabalhos de campo e analises. Desse modo, optamos por subdividir nossa descrição em três distintos momentos, a saber; comunidade, PMI/SME e por fim a escola.
O capitulo terceiro por sua vez, versa as análises mais aprofundadas do processo de escolarização dos alunos da Comunidade Quilombola do Capoeirão, tal como, a retomada dos discursos dos alunos e egressos, de modo que elencamos os desafios do processo de escolarização com as marcas da diferença e (in) diferenças como pressuposto do fracasso escolar.
Por último, passamos à nossa conclusão que contemplou uma avaliação do processo de construção desse trabalho, e apontou resultados a partir das analises sistemáticas desse estudo, retomando as marcas e importância dessa discussão para a promoção da igualdade racial e disseminação de uma postura antirracista na escolarização itabirana.
 VEJA MAIS SOBRE ESSE ESTUDO NA BIBLIOTECA DA UFMG

CAP.I  REFERENCIANDO O DEBATE RACIAL
2.1 UM MÉTODO; UM CAMINHO DIALÓGICO
2.2  A LEI 10.639/03 COMO PRESSUPOSTO DA INCLUSÃO E EMANCIPAÇÃO
     2.3  A EDUCAÇÃO COMO PROTAGONISTA DA IDENTIDADE E PERTENCIMENTO          DAS COMUNIDADES NEGRAS E QUILOMBOLAS.
     3.1 SEÇÃO I – A Comunidade Quilombola do Capoeirão
    3.2 Desafios e conquistas: entre ações afirmativas 
    3.3 O processo de reconhecimento como avanço na garantia de direitos.
    3.4 Secção II- A atuação da PMI/SME
    3.5 A diretoria para a promoção da Igualdade Racial
    3.6 A Lei Orgânica do município de Itabira e a Educação Escolar Quilombola 
   3.7 Secção III- A Escola Municipal Antônio Camilo Alvim
   3.8 Um raio x da atuação da escola em referência à Educação Escolar Quilombola. 
  CAP.III O processo de escolarização dos alunos da Comunidade do Capoeirão
  4.1  Um estudo realizado no quilombo do Capoeirão: um modo de percepção
       dos desafios quanto ao processo de escolarização
4.2 As marcas da in (diferença): o fracasso e in (sucesso) escolar



           



















[1] Curso de especialização latu-sensu, Gênero e diversidade na escola promovido pelo Núcleo de direitos humanos e cidadania LGBT/ NUH da Universidade Federal de Minas Gerais.

O ARCHÉ - ORIGEM DE TUDO- COSMOLOGIA

FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS
     Os pré-socráticos são filósofos que viveram na Grécia Antiga e nas suas colônias. Assim são chamados pois são os que vieram antes de Sócrates, considerado um divisor de águas na filosofia. Muito pouco de suas obras está disponível, restando apenas fragmentos. O primeiro filósofo em que temos uma obra sistemática e com livros completos é Platão, depois Aristóteles. São chamados de filósofos da natureza, pois investigaram questões pertinentes a esta, como de que é feito o mundo. Romperam com a visão mítica e religiosa da natureza que prevalecia na
     época, adotando uma forma científica de pensar. Alguns se propuseram a explicar as transformações da natureza. Tinham preocupação cosmológica. A maior parte do que sabemos desses filósofos é encontrada na doxografia de Aristóteles, Platão, Simplício e na obra de Diógenes Laércio (século III d. C), Vida e obra dos filósofos ilustres. A partir do século VII a.C., há uma revolução monetária da Grécia, e advêm a ela inovações científicas. Isso colaborou com uma nova forma de pensar, mais racional. Os pré-socráticos inspiraram a interpretação de filósofos contemporâneos como Nietzsche, que nos iluminou com a sua obra A filosofia na época trágica dos Gregos e Hegel, que aplicou seu sistema na história da filosofia.
     Tales de Mileto
     Anaximandro
     Anaxímenes
     Pitágoras
     Xenófanes
     Heráclito
     Parmênides-
     Zenão de Eléia
     Empédocles
     Anaxágoras
     Leucipo de Mileto
     Demócrito
 

 Tales de Mileto
Tales de Mileto – (+ ou- 640-548 a. C) Tales é considerado o pai da filosofia     grega, o primeiro homem sábio. Foi um homem que viajou muito. Os   pensadores de Mileto iniciaram uma física e uma cosmologia. O universo era   considerado um campo com pares opostos das qualidades sensíveis. É de Tales   a frase de que á água é a origem de todas as coisas. Tudo seria alteração da  água, em diversos graus. O alimento de toda a coisa é úmido. Aristóteles afirmou que ele foi o primeiro a atribuir uma causa material para a origem do  universo. Também era matemático, geômetra e físico. Aparece nas listas dos Sete Sábios da Grécia. Outra frase que pode ser dele é a de que tudo está  cheio de deuses, ou seja, a matéria é viva. Dizem que previu um eclipse solar e  calculou a altura de uma pirâmide. Em Aristóteles há um trecho dizendo que era sabido ser uma afirmação de Tales que a alma é algo que se move. Teve como  discípulo Anaximandro.

 Anaximandro
Anaximandro – (+ ou – 610-547 a. C) é um filósofo da escola jônica, natural de    Mileto e discípulo de Tales. Foi geógrafo, matemático, astrônomo e político.   Escreveu um livro, Sobre a natureza, que se perdeu. É considerado autor de   um mapa do mundo habitado e iniciador da astronomia. Afirmou que a origem de todas as coisas seria o apeíron, o infinito. O mundo se dissolveria nele    também. É apenas um mundo dentre muitos. Ao contrário de Tales não deu à  gênese um caráter material. O apeíron é eterno e indivisível, infinita e indestrutível. O princípio é o fundamento da geração de todas as coisas, a ordem do mundo evoluiu do caos em virtude deste princípio. Teve como  discípulo Anaxímenes.

 Anaxímenes
Anaxímenes – (+ ou – 588-524 a.C.) foi um filósofo da escola jônica, que tem  como característica básica explicar a origem do universo ou arché a partir de  uma substância única fundamental. Refutando a teoria da água de Tales, e do ápeiron de Anaximandro, Anaxímenes ensinava que essa substância era o ar     infinito, pneuma ápeiron. O universo resultaria das transformações do ar, da sua rarefação, o fogo, ou condensação, o vento, a nuvem, a água e a terra e por último pedra. Esse era o processo por qual passava uma substância primordial, e resultava na multiplicidade, os quatro elementos. O ar tinha o eterno  elemento. Escreveu uma obra, como Anaximandro: Sobre a natureza.     Dedicou-se à  meteorologia, foi o primeiro a considerar que a lua recebe a luz do  sol. Era companheiro de Anaximandro. Hegel diz que Anaxímenes ensina que nossa alma é ar, e ele nos mantém  unidos, assim um espírito e o ar mantém unido o mundo inteiro. Espírito e ar são a mesma coisa.
         A substância da origem volta a ser uma coisa determinada como em Tales.  Anaxímenes identificou o ar talvez porque tenha visto seu movimento  incessante, e que a vida e o ar andam juntos, na maioria dos casos. A respiração é um processo vivificante, dependemos dela durante toda a nossa vida. Ele via     que no céu existem nuvens, e que a matéria possui diferentes graus de solidez.
         Outra frase que consta nos fragmentos é "O sol largo como uma folha".

 Pitágoras de Samos
Pitágoras – (século VI a.C.) Conhece-se muito pouco sobre a vida desse filósofo, pois foi uma figura legendária, e é difícil distinguir o que é verdade e o que é mentira. Nasceu em Samos, em uma época em que na Grécia estava instituído o culto ao deus Dioniso. Os órficos (de Orfeu) acreditavam na imortalidade da alma e em reencarnação (metempsicose), e para se livrar desse ciclo, necessitavam da ajuda de Dioniso, deus libertador. Pitágoras postulou como via de salvação em vez desse deus, a matemática. Acreditava na divindade do número. O um é o ponto, o dois determina a linha, o três gera a superfície e o quatro produz o volume. Os pitagóricos concebem todo o universo como um campo em que se contrapõe o mesmo e o outro. É de Pitágoras o teorema do triângulo retângulo. Fundou uma seita, em que a salvação dependia de um esforço humano subjetivo, e que tinha iniciação secreta. Os números constituem a essência de todas as coisas segundo sua doutrina, e são a verdade eterna. O número perfeito é o dez, por causa do triângulo místico. Os astros são harmônicos. Foi Pitágoras que inventou a palavra filosofia – (amizade ao saber).
        A escola de Pitágoras gerou os pitagóricos, que procuraram aperfeiçoar o sistema filosófico original. Eles floresceram em uma colônia grega na Itália. Pregavam o ideal da salvação do homem, tinham um caráter místico e espiritualista, e davam à matemática um caráter matemático.
Muitos filósofos foram também matemáticos, que atribuem ao universo a lógica dos números e em muitos pontos de sua doutrina buscam a matemática para fundamentar a sua lógica. É uma visão mecanicista, que identifica no mundo o raciocínio matemático. Platão exaltava a geometria, por essa ter um caráter
abstrato. Outros filósofos matemáticos importantes foram Descartes, Leibniz e Bertrand Russel. Spinoza escreveu um livro chamado A ética demonstrada pelo método geométrico, que é o método euclidiano de expor.

Xenófanes de Colofão

 Xenófanes de Colofão –(século IV a. C) atribui-se a ele a fundação da escola de Eléia. Levou vida errante, passou parte dela em Sicília, tendo fugido de sua terra natal por causa da invasão dos medas. Alguns duvidam de sua ligação com Eléia. Em seus fragmentos defendeu um deus único, supremo, que não tinha a forma de homem. Realçou isso afirmando que os homens atribuem aos deuses características semelhantes a eles mesmos, que mudam de acordo com o povo. Se os animais tivessem mãos para realizarem obras, colocariam nos deuses suas características. Restaram de suas obras alguns fragmentos, sendo que uns satíricos. Foi contra a grande influência de Hesíodo e Homero (historiador e escritor gregos). Zombou dos atletas, preferindo a sua sabedoria aos feitos atléticos, que não enchiam celeiros. O deus segundo Xenófanes está implantado em todas as coisas, o todo é um, e é supra-sensível, imutável, sem começo, meio ou fim. Teve como discípulo  Parmênides.
     Segundo Hegel os gregos tinham apenas o mundo sensível diante de si, e não encontravam satisfação nisso. Assim jogavam tudo fora como sendo não verdadeiro, e chegavam ao pensamento puro. O infinito, Deus, é um só, pois se fosse dois haveria a finitude. Hegel identifica a dialética* em Xenófanes, uma consciência da essência, pura, e outra de opinião, uma sobrepondo a outra, indo     contra a mitologia grega.

       *Dialética – Em Platão a dialética é o processo pelo qual a alma se eleva, em degraus, da realidade sensível ao mundo das idéias. É um instrumento de busca da verdade.
     Em Hegel, é o movimento racional que nos permite superar uma contradição. Assim, na história  vemos uma tendência, e a ela volta-se uma oposição, criando uma tensão, que é superada por uma nova tese que traz a solução. É o movimento tese, antítese e síntese. Não se restringe apenas a história, mas deve ser encarada como parte do real, uma forma de pensar evolutiva



Heráclito de Éfeso
 
        Heráclito – (+ ou – 540-470 a. C) nasceu em Éfeso, cidade da Jônia, descendente do fundador da  cidade. É considerado o mais importante dos pré-socráticos. É dele a frase de que tudo flui. Não entramos no mesmo rio duas vezes e o sol é novo a cada dia. É o filósofo do devir, a lei do universo, tudo nasce se transforma e se dissolve, e todo o juízo seria falso, ultrapassado. Desprezava a plebe, não participou da política e desprezou a religião, os antigos poetas e os filósofos de seu tempo. É o primeiro pré-socrático com um número razoável de pensamentos, que são um tanto confusos, e por isso tem o nome de Heráclito, o obscuro. São aforismos. Foi muito crítico.  Chama a atenção, além da pluralidade, para os opostos. Tanto o bem como o mal são necessários  ao todo. Deus se manifesta na natureza, abrange o todo e é crivado de opostos. O logos é o  princípio cósmico, elemento primordial, e a razão do real, a inteligência. A verdade se encontra no devir, não no ser. Com sentidos poderosos, poderíamos vê-lo. O pensamento humano participa e é parte do pensamento universal. O fogo é eterno, um dia tudo se tornará fogo. O sol seria da largura de um pé humano. A felicidade não está nos prazeres do corpo. A morte é tudo que vemos despertos, e tudo o que vemos dormindo é sono. Existe a harmonia visível e a invisível. A alma não tem limites, pois seu logos é profundo e aumenta gradativamente. O pensar é comum a todos. A terra cria tudo, e tudo volta para ela.
     Hegel identifica em Heráclito a dialética: Heráclito concebe o absoluto como processo, com a dialética, exterior, um raciocinar de cá para lá e não a alma da coisa da coisa dissolvendo-se a si  mesma, a dialética imanente do objeto, situando-se na contemplação do sujeito, objetividade de Heráclito, compreendendo a dialética como princípio. O ser não é mais que o não ser. O fogo condensa-se, e apagado vira água. Encontramos em Heráclito algo comum entre os sábios: o desprezo pelo populacho, (como era comum Nietzsche dizer) e instituições dominantes. Teria sua experiência lhe dado base para isso?
     Ele pode ter contemplado com os seus próprios olhos o devir, movimento inteligente do universo e maravilhoso. Encontrou fogo na alma humana, comparou-a com uma chama que se apaga na morte.  Identificou o infinito na natureza, não apenas o matemático, mas o que constitui a essência das coisas. Pois todas as coisas têm uma essência, e o fluxo da alma é tão fundo que não tem fim.
 


Parmênides
 Parmênides – (+ ou – 544-450 a. C) filósofo da escola eleática, da região de Eléia, hoje Vília, Itália. Foi discípulo de Amínisas. Conheceu a filosofia de sua época. Escreveu um poema, cujo preâmbulo tem duas partes, a primeira trata da verdade, a segunda da opinião. Suas conclusões são contrárias às de Heráclito, seu contemporâneo. Na primeira parte do poema proclama a razão absoluta, que é o     discurso de uma deusa. Para se chegar à verdade não podemos confiar nos dados empíricos, temos de recorrer à razão. Desta forma nada pode mudar, só existe o ser, imutável, eterno e único, em oposição ao não ser. Teve como discípulo Zenão, também de Eléia.
     Segundo Nietzsche, foi em um estado de espírito que Parmênides encontrou a teoria do ser,   considerando o vir a ser. Pensou: algo que não é pode vir a ser? Não. – Temos de ignorar os sentidos e examinar as coisas com a força do pensamento. O que está fora do ser não é o ser, é nada, o ser é   um.
     Ao colocar como “imperativo categórico” o ser, e com ele a verdade que se chega na razão, Parmênides inaugura uma manifestação humana de conseqüências funestas. A refutação dos dados  empíricos, em favor do que pode ser comprovado com a razão age sobre o resultado final dos  mesmos. Assim, com o possível de ser explicado em primeiro plano, deixamos de lado um aspecto da percepção: a mudança, pois mudar é deixar de ser. O devir, nesses parâmetros é uma ilusão,   o fluxo da natureza também e o que é confiável é aquilo que é assimilado e compreendido. Põe se barreiras na percepção pura, que provêm da mente aberta, para usar um termo de Aldous Huxley.

Zenão, de Eléia 
         Zenão, de Eléia (século V a. C)- cerca de quarenta anos mais jovem que o seu mestre e conterrâneo Parmênides. Nasceu na Eléia, e interviu na política, dando leis à sua pátria. Zenão teria deixado cerca  de quarenta argumentos, sendo que nove foram conservados pelo doxógrafos. São dispostos em problemas de grandeza, do espaço, do movimento e da percepção sensível. Ele parte da divisibilidade infinita do espaço, pois um corpo percorrendo um espaço infinito em um tempo finito   estaria imóvel. Seus argumentos constituem-se verdadeiras aporias (caminhos sem saída), indo até ao absurdo. Foi considerado por Aristóteles o inventor da dialética, no sentido de diálogo que parte das premissas do adversário e o põe em contradição, numa posição insustentável. Defendeu as teorias do ser de seu mestre, Parmênides, contra os seus adversários, notoriamente os pitagóricos, que pregavam o ser múltiplo e divisível. O infinito não pode ser percorrido num tempo finito, só em um tempo infinito. Seus argumentos ficaram conhecidos como paradoxos de Zenão.
         Paradoxo de Aquiles: o mais lento na corrida jamais será alcançado pelo mais rápido, pois o que persegue deve sempre começar a atingir o ponto de onde partiu o que foge. Outro argumento pretende afirmar que uma flecha está em repouso ao ser projetada. É a conseqüência da suposição de que o tempo seja composto de instantes.
         Ele demonstra que quando há o múltiplo, há o grande e o pequeno. Quando grande, o múltiplo é  infinito, segundo a grandeza.
         Para Hegel, a dialética de Zenão possui mais objetividade que a atual. Ele ainda se conteve com os  limites da metafísica.
         Segundo muitas lendas, tornou-se célebre em sua morte, quando salvou um Estado de seu tirano, sacrificando sua vida, pois foi torturado e não delatou seus companheiros de conjura. Por isso foi  assassinado.

Empédocles 
 Empédocles (+ ou – 490- 435 a. C) natural de Agrigento na Sicília. A democracia estava em fase de implantação e ele a defendeu. Virou figura lendária, um misto de cientista, de místico, de pitagórico e órfico. Escreveu dois poemas. No primeiro apresenta uma única visão do processo cosmogônico, e o segundo é religioso. Refutou as teses que atribuem a origem do universo a um único elemento.
         Identificou quatro substâncias básicas, que ele chamou de raízes: a água, a terra, o fogo e o ar. Tudo se consiste desses quatro elementos, e as transformações que advêm a eles seriam visíveis a olho nu.
     Essas substâncias são eternas, imutáveis. Jostein Gaardner afirma que talvez Empedócles tenha visto uma madeira queimar, alguma coisa aí se desintegra. Alguma coisa na madeira estala, ferve, é a  água, a fumaça é o ar, o responsável é o fogo, e as cinzas são a terra. As verdades não seriam mais absolutas, como nos eleatas, mas proporcionais à medida humana. As coisas são imóveis, mas o que    percebemos com os sentidos não é falso. Duas forças atuariam nas substâncias, o amor e o ódio. O amor agiria como força de atração e união, o ódio como força de dissolução. Em quatro fases, existe a alternância do amor e do ódio. Estabelece um ciclo, com a tensão da convivência dessas forças motrizes.
     Empédocles dizia que alguns animais vêem melhor de dia do que de noite, e vice versa. O   pensamento se produz com a sensação.
     Admitiu a multiplicidade de itens de uma criação, como um pintor que mistura diferentes pigmentos em sua obra. Fala muito da deusa do amor Afrodite, portadora da vida e da beleza. Em sua filosofia todos os animais têm pensamentos. A inteligência cresce de acordo com os dados sensoriais do tempo presente.
     Hegel afirma que para Empédocles, outros elementos que não os quatro básicos, não são em si e para si. Não poderíamos visualizar o mundo sem os quatro elementos básicos. Nietzsche traça um perfil de Empédocles: cabelos longos, sandálias de couro nos pés e uma coroa na  cabeça. Com vestido cor de púrpura. É um filósofo trágico, pessimista, ativo. Queria provar que era um deus, atribuía-se qualidades místicas. Todos os movimentos, segundo ele nasceram de uma    natureza não mecânica, mas levam a um resultado mecânico.
     Conta a lenda que se atirou no vulcão Etna para provar que era um deus.

Anaxágoras 
     Anaxágoras (+ ou – 499-428 a. C)- filósofo da escola jônica nascido na Ásia menor, foi o primeiro filósofo a se transferir para Atenas, de onde foi banido por considerar o sol uma pedra incandescente e a lua uma Terra, negando a divindade desses corpos celestes. Interessava-se muito por astronomia. Houve um processo que acabou por condena-lo, apesar de ser amigo de Péricles, seu mestre e protegido. Péricles foi um grande líder político. Sócrates que nasceu cerca de trinta anos depois de Anaxágoras também foi condenado. Atenas considerava a novidade, a filosofia, uma impiedade e ateísmo. Anaxágoras se recusava a prestar culto aos grandes deuses gregos. Era filho de Hegesibuldo. Disse que as coisas corpóreas eram infinitas, e elas pareciam engendrar-se e destruir-se pela combinação e dissolução. No início, todas as coisas seriam infinitas em quantidade e pequenez, pois o pequeno também era infinito. Toda a matéria estava condensada. O ar e o éter são o maior conjunto de coisas. Muitas coisas de todas as espécies são contidas em todos os compostos e sementes. Em tudo há um pouco de tudo. Em cada minúscula partícula, ou semente, há uma parte de todas as coisas, pois todas as coisas são formadas por essas sementes. Essas coisas se resolviam e separavam pela força e rapidez, a força é a rapidez que produz. E o espírito começou a se mover, e em todo movimento havia uma separação, e as partículas se desdobravam, o espírito sempre é, sempre afirma. O compacto, o fluído, o frio e o sombrio se colocaram onde se formou a terra, e o ralo o quente e o seco forma para longe do éter. As visões das coisas invisíveis são aparentes, a lua reflete os raios de sol, em sua filosofia. E as coisas, que estavam juntas foram separadas por esse espírito inteligente e puro (nous), que ordenava a matéria e se movia, separando os opostos e criando os seres diferenciados. Os graus de inteligência dos seres animados (animais e plantas) dependem da estrutura do corpo em que o nous está ligado sem se misturar. Para Hegel, Anaxágoras foi um sóbrio entre os ébrios. Fundamenta sua crítica dizendo que ele foi o primeiro a dizer que o pensamento é universal, em si e para si, o puro pensamento é verdadeiro. Universal pela noção de causalidade. Essa noção, se não é universal, se não considera a coisa em si, costuma dizer coisas como: a causa da existência do capim é servir de alimento para os herbívoros, e a destes é servir de alimento para os carnívoros, os troncos fluem para determinado lugar, pois estão precisando deles lá e assim por diante. O nous de Anaxágoras é universal, move-se para diante. Cada idéia é um círculo de si mesma, e o bem universal de sua espécie. O nous é a alma que a tudo move, que liga e separa, uma atividade que põe uma primeira determinação como subjetiva, mas essa é feita objetiva, e assim se torna outra, e de novo esta oposição é sobreposta, assim até o infinito. Isso é dialética. Topo

Leucipo
     Leucipo (século V a. C) Filósofo grego, criador da teoria atomista, que foi desenvolvida por Demócrito. É considerado discípulo de Zenão, mas também especula-se sobre ser na verdade discípulo de Parmênides e Melisso*. Atribuem a Leucipo uma obra: A Grande ordem do Mundo. Neste livro diz que nenhuma coisa
se engendra ao acaso, mas a partir da razão e da necessidade. Seria natural de Mileto ou Eléia.
        Segundo Hegel, Leucipo concebeu a determinabilidade não de modo superficial, mas de maneira especulativa. Haveria no mundo a matéria e o vazio. A matéria é constituída de átomos, que se movem em torvelinho. O absoluto é o átomo, o verdadeiro. O um e o princípio são abstratos. Princípio do um é ideal, o pensamento é a essência das coisas. Sua filosofia, para Hegel, não é empírica. Os átomos movem-se por necessidade, se chocam e se rechaçam. São distintos entre si pela ordem e pela posição.
        Leucipo queria aproximar o pensamento do fenômeno e da percepção sensível, para Aristóteles. A alma também se constituiria de átomos.
Leucipo explicou o fenômeno do peso de acordo com o tamanho dos átomos e suas combinações. Os átomos seriam partículas minúsculas e indivisíveis por sua pequenez. O mundo teria a parte cheia e a parte vazia. Foi o primeiro a conceber uma parte vazia no universo. A parte cheia seria constituída de átomos. Rejeitou a descoberta dos pitagóricos de que a Terra é esférica.

Melisso 
Melisso – floresceu em cerca de 444/41 a.C. Nasceu em Samos, ilha do mar Egeu, e era filósofo e político, tendo derrotado os atenienses com uma esquadra que comandou. Defensor de Parmênides, atacou Empédocles. Escreveu um poema, Sobre o ser. Disse que o todo é imóvel, pois se movesse haveria vazio e o vazio é um não ser. Para ele tudo sempre existiu, e sempre existirá. O mundo é infinito.

Demócrito
     Demócrito (+ ou – 460-370 a. C) – nasceu em Abdera (Trácia). Foi discípulo e sucessor de Leucipo, desenvolveu sus teoria atomista e participou da escola iniciada por seu mestre em sua terra natal. De sua vida sabem-se poucas coisas seguras, mas fala-se que viajou muito, recebeu homenagens de seus concidadãos. É famosa a tradição que lhe atribui um riso constante, presente para qualquer coisa. É um dos primeiros materialistas. Teria deixado cerca de noventa obras. Para resolver o impasse surgido nas teorias de Heráclito e Parmênides, desenvolve a teoria de que tudo seria composto por partículas minúsculas indivisíveis e invisíveis a olho nu, inclusive a alma. Os átomos da alma se desintegrariam no momento da morte. Portanto, não acredita na imortalidade da alma, embora gostasse de Pitágoras. Trabalhou muito, dizia que os trabalhos feitos de bom grado fazem mais leves as cargas dos impostos a contragosto. Na sua filosofia, o trabalho continuado torna-se     mais leve por causa do átomo. Um trabalho bem feito e terminado dá mais satisfação que o descanso, e um trabalho em que não há retorno causa muito desprazer. O homem sensato dosa a avareza com o gasto, e suporta com brandura a pobreza. Quanto à forma, a emanação é igual às coisas. Os átomos são indivisíveis, pois se fossem divisíveis em partículas ainda menores. A natureza acabaria por se diluir. E como nada pode surgir do nada, são eternos. O movimento existe, pois o pensamento é movimento, e também os átomos se movem. Quando os átomos estão em equilíbrio, são tão numerosos que não podem mais se mover, os mais leves são    repelidos para o vazio exterior (portanto, o vazio existe) e os outros permanecem juntos, formando um conglomerado. Cada um desses conglomerados que se separam das massas dos corpos é um mundo, e existem infinitos mundos. Esta é uma visão nietzscheana da teoria de Demócrito. A essência da alma está na sua natureza animadora, de movimento. A alma é feita de átomos sutis, que se movem, lisos e arredondados. O fogo faz parte da essência do homem. Se a respiração cessa, o fogo interior escapa, e ocorre a morte. O homem é infeliz porque não conhece a natureza. Temos de nos contentar com o mundo tal como ele é. Os átomos constituem a explicação última da natureza. Foi o mais lógico dos pré-socráticos. Nietzsche o considera um poeta, Aristóteles admira sua     universalidade. Sua doutrina seguiu adiante, e temos outros atomistas, como Epicuro.

REFERÊNCIA


OS CAMPOS DA FILOSOFIA

  Introdução à Filosofia
.        
Termo Filosofia surgiu na Grécia Antiga para denominar a busca de homem na construção do conhecimento e para o entendimento do que está ao seu redor (natureza, humanidade etc.)

Foi por meio da preocupação em formular uma conhecimento, por meio das condições intelectuais dos seres humanos que a palavra filosofia surgiu. No sentido etmilógico da palavra, Filosofa é a junção de duas expressões gregas:

Philía: Amor / Sophia: Conhecimento. Ou seja,“Amor ao Conhecimento”

Nesse Contexto, fazer Filosofia é se colocar na posição de “dúvida”, ou melhor, é questionar o que acontece ao nosso redor, uma vez que, somente com a dúvida que iremos encontrar as respostas. È por meio de hábito de se fazer perguntas que podemos encontrar a verdade sobre algo ou sobre alguma coisa.


OS CAMPOS DA FILOSOFIA:

Lógica:
O estudo da forma e da estrutura do próprio pensamento; procurando assim, o método ideal de raciocínio, análise e pesquisa.

Metafísica:
É o campo mais complexo da Filosofia. Pois compreende o estudo da realidade última das coisas, da natureza do ser, da mente humana, do conhecimento, dos sentidos, das relações entre o homem e a matéria. Analisa as definições, essências e conceito de todas as coisas. Quando questionamos sobre o “que é” ou “o que pode ser” alguma coisa,

Estética:
Quando abordamos questões sobre a finalidade da beleza para o ser humano, ou seja, a natureza do “belo”. Ou seja, é o estudo das formas de representações e das considerações sobre o belo, sobre as artes e demais formas de expressão de cultura.

Ética:
Estuda os valores e atos humanos; busca estabelecer os princípios e a conduta justa.

Política: Estuda as formas de como o homem se organiza em espaços públicos e de como seria uma organização social ideal.

Enfim, o ato de filosofar envolve, fundamentalmente, uma mudança de postura diante da vida, descartando as explicações que nos foram impostas como verdadeiras e estabelecendo novas regras ao jogo. Passamos a ver o mundo de maneira diferente, com um olhar mais atento e certeiro.

Conhecendo além dos aspectos superficiais das coisas, principalmente sua razão de ser, com certeza estaremos mais próximos de uma condição de vida mais livre. De posse dessa condição, podemos lutar pela dignidade humana ou nos tornarmos criaturas passivas, omissas, indiferentes. Todas essas possibilidades dependem, em última análise, do amor que temos pela vida e do respeito que nutrimos por nós mesmos.

CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Atual. 2002.

TEXTO 01:

FILOSOFIA: De que se trata mesmo?

A Filosofia é um modo de pensar, é uma postura diante do mundo. A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos, um sistema acabado, fechado em si mesmo. Ela é, antes de tudo, uma prática de vida que procura pensar os acontecimentos além da sua aparência. Assim, ela pode se voltar para qualquer objeto. Pode pensar a ciência o próprio homem em sua vida cotidiana. Uma Estória em quadrinhos ou uma canção popular podem ser também objeto de reflexão filosófica.

A Filosofia é um jogo irreverente que parte do que existe; critica, coloca em dúvida, faz perguntas importunas, abre a porta das possibilidades, faz-nos entrever outros mundos e outros modos de compreender a vida. O saber filosófico incomoda porque tem no questionamento um grande aliado, haja vista o próprio hábito de questionar sobre o modo de vida da humanidade, por exemplo. Questiona sobre práticas políticas, científicas, sociais, técnicas, econômicas etc. Não há área onde ela não se meta, não indague, não perturbe. E nesse sentido, a Filosofia é perigosa, subversiva, pois viola a ordem estabelecida da cabeça para baixo.
Sua história está ligada aos tempos da Grécia Antiga, por volta do século VI a.C. A grande aventura intelectual não começa propriamente na Grécia Continental, mas em suas colônias – Jônia e Mileto. Como se sabe, o próprio termo filosofia, em seu sentido etimológico, surgiu de duas palavras gregas: Philo e Sophia, amor (fraternal, amizade) e Conhecimento, respectivamente. Significando, portanto: amizade pelo conhecimento, amor e respeito pelo saber.

O filosofo: o que ama a sabedoria tem amizade pelo saber, quem deseja saber. Assim, Filosofia indica o estado de espírito, o da pessoa que ama. Isto é: deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita. A Filosofia é um fato tipicamente grego e é entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático:
Da origem e causas do mundo e suas transformações.
Da origem e causas das ações humanas.
Da origem e causas do próprio pensamento.

Quando se diz que a Filosofia é um fato grego, o que se quer dizer, é que ela possui certas características, apresenta certas formas de pensar e de exprimir os pensamentos, a ação, as técnicas, que são completamente diferentes das características desenvolvidas por outros povos e outras culturas, como por exemplo, os chineses, índios, hindus etc. Nesse contexto, podemos concluir que existe uma sabedoria chinesa, uma hindu, uma pertencente aos índios, mas não a filosofia chinesa, hindu ou indígena.

A reflexão filosófica é um modo de pensar, que surgiu especificamente com os gregos e que por razões históricas, tornou-se depois, o modo de pensar e de se exprimir predominantemente da chamada cultura europeia ocidental, da qual, em decorrência da colonização portuguesa no Brasil, nós também participamos. Nesse contexto, a Filosofia que nasceu por volta do século VI a.C. na Grécia, rejeitava as explicações míticas que, baseadas no sobrenatural, aceitava a interferência de agentes divinos no fenômeno da natureza. Ao buscarem a racionalidade do universo, os filósofos dessacralizam a natureza: retiram dela, a dimensão do sagrado.

Enfim, a esse pensamento reflexivo, com definições e conceitos rigorosos e a coerência interna do discurso a fim de possibilitar o debate e a discussão, chamamos de Filosofia.

TEXTO 02:

Interrogando-se Sobre a Própria Existência: A Busca de Sentido de Ser Humano.

A questão do homem sobre si mesmo é a questão dos homens sobre a humanidade. Quem somos, por que existimos, por que buscamos o sentido das coisas. Há diversas situações da nossa vida em que a pergunta sobre o ser humano e o sentido de sua existência pode aparecer. Além disso, a forma de perguntar sobre este assunto e o tipo de resposta podem variar.

A pergunta pode ser formulada em particular, isto é, cada um pode interrogar a sim mesmo sobre quem, de fato, é e qual o propósito de sua vida. A questão também pode ser formulada no geral, dando um caráter universal ao problema. Nesse caso a existência da humanidade é um desafio que se busca investigar, e aí nos incluímos como parte de um todo.

Alguma vez você ja fez alguma destas perguntas ou ouviu alguém fazê-las?

__ Por que existo?
__Por que estamos aqui neste mundo?
__ Para que viver?
__Qual o sentido da vida?

SÁTIRO, Angélica, WUENSCH, Ana Miriam. Iniciação ao Filosofar. 3ª ed. São Paulo: Saraiva 1999.


Referência
CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Atual. 2002.

SÁTIRO, Angélica, WUENSCH, Ana Miriam. Iniciação ao Filosofar. 3ª ed. São Paulo: Saraiva 1999.