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terça-feira, 24 de junho de 2014

1ª MOSTRA CULTURAL DE ENSINO RELIGIOSO

A Escola Estadual da Fazenda da Betânia (Pedreira- Itabira .MG) realizou a 1ª mostra cultural de Ensino Religioso no último dia 10 de junho de 2014.  A exposição com a temática: TEMPLOS E ESPAÇOS SAGRADOS foi desenvolvida pelo professor de Cultura Religiosa (Jhonatan dos Santos Ferreira). A atividade fora desenvolvida com os alunos do ensino fundamental que compreende do 6º ao 9º ano.
A proposta da oficina é resgatar o conceito de espaço e templos sagrados das diversas tradições culturais e religiosas, favorecendo assim o RESPEITO pelas diferenças e o amplo ambiente de aprendizagem.
Atividades como essas contribuem de forma significativa para o processo de conhecimento dos nossos educandos.
A proposta é ampliar essa atividade a fim de compartilhar o potencial dos nossos alunos, levando-os a uma convivência harmoniosa e tolerante quanto às presenças de diversas orientações religiosas presentes no ambiente escolar. 
A abordagem de temas transversais como esse na cultura religiosa tem sido uma forma concreta de disseminar a consciência dos educandos para uma abertura e maior aceitação pelo diferente, trouxemos com essa proposta o incentivo para a reflexão das tantas religiosidades presentes no solo brasileiro e também fora dele.
A atividade fora desenvolvida pensando no campo reflexivo e criativo dos alunos, as experiências trazidas por eles no decorrer das apresentações temáticas deixaram claro o envolvimento e empenho dos grupos, tanto na pesquisa quanto na confecção das maquetes dos templos. Não podemos deixar de pontuar que o trabalho em equipe foi um dos fatores que contribuíram decisivamente para o bom resultado do projeto.


A necessidade que tínhamos de envolvermos com temas que favorecem os valores e as práticas de uma solidariedade e respeito pelo próximo foi atendida conforme relata a aluna ANA LAURA da turma 803:  “A atividade pensada pelo professor de ensino religioso nos ajudou muito para compreendermos sobre as principais grandes religiões com seus templos, espaços sagrados, hábitos e modos de ver a vida. Foi uma atividade bem diferente e prazerosa de se fazer, podemos também conhecer melhor nossos amigos de classe sendo que o trabalho foi realizado em grupo. Por fim, a atividade foi válida para que toda a escola envolvida pudesse  colocar em prática o que realmente aprendemos com as apresentações; palestras e a mostra cultural; colocar em prática a importância das diferenças em nossa escola e em toda a sociedade.”
O trabalho proposto também ajuda aos educandos a retomar o próprio sentido de espaço, lugar e local (formados previamente pelos nossos alunos). É a oportunidade de orientar um trabalho mais amplo e planejado em vista de registrar com os alunos a valorização do meio ambiente e emancipar os conhecimentos para uma consciência mais respeitosa e tolerante ao tange as práticas dos cultos nos seus templos e espaços.
Consideramos, contudo, ser esse projeto um ponto positivo na realidade da vida de nossa escola e dos nossos educandos, é uma pequena parcela do que pode ser feito a fim de formar verdadeiros cidadãos pautados no respeito e na tolerância nas relações, é atentar para o que a diversidade pode trazer de construtivo para a nossa geração, sendo assim a própria religiosidade espaço de ensino e aprendizagem.


PROF.JHONATAN DOS SANTOS FERREIRA

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Platão - o primeiro filósofo a sistematizar uma ideia política

Entre as diversas questões que a filosofia visa investigar, pode-se perguntar sobre como é e como deveria ser o convívio em sociedade. Se for investigada a palavra política, que vem do grego, será compreendido que politika refere-se aos assuntos da cidade (pólis). É neste sentido que, em filosofia política, pergunta-se sobre a natureza das leis, a natureza do governo, a origem da organização social e sobre qual seria a melhor forma de convívio entre os indivíduos. Todos estes temas nos levam a pensar sobre o espaço público, que é o espaço da política.
O primeiro filósofo a sistematizar uma ideia política foi Platão (428-7 – 348-7 a.C.). Ele escreveu sobre o assunto principalmente em dois livros, A república e As leis. Nestes livros, apresenta a ideia de que uma sociedade bem ordenada é aquela onde cada indivíduo desempenha a função na qual é mais habilidoso. Os hábeis com as mãos deveriam ser artesãos, os fortes devem proteger a cidade e os sábios devem governá-la. Platão pensa também sobre como deve ser a educação nesta cidade ideal, para conseguir desenvolver em cada criança o seu potencial a fim de que possa executar melhor a sua função. Cada indivíduo, para ele, será livre enquanto estiver cumprindo as leis, criadas com o intuito de melhor conduzir a cidade.
Ainda no mundo grego, Aristóteles (384 – 322 a.C.) vai discordar de Platão. Em Política, Aristóteles pensa que a cidade ideal de Platão, onde há prioridade daquilo que é público sobre aquilo que é privado, não funcionaria muito bem. Para ele, as pessoas dão mais valor ao que pertence a si mesmo, do que ao que pertence a todos. Aristóteles se preocupou menos com hipóteses de uma sociedade perfeita e mais em compreender a realidade política de seu tempo, estudando as leis de diferentes cidades e as formas de governo existentes. A melhor forma de organização política, defendida por ele, é um sistema misto de democracia e aristocracia, chamado politia, para evitar os conflitos de interesses entre os ricos e pobres. É dele também a ideia de que o homem é um animal político, isto é, que faz parte da natureza humana se organizar politicamente.
A ideia de que é natural se organizar politicamente perdurou até o séc. XVII. Thomas Hobbes (1588 – 1679), conhecido por ter escrito Leviatã, propôs a ideia de que a sociedade se organiza a partir de um contrato social. Pensou assim, pois é possível imaginar uma hipótese sobre o convívio humano antes da formação das sociedades. Hobbes via esse momento como uma guerra de todos contra todos, onde, em liberdade, cada indivíduo iria apenas pensar em sua conservação. Deste momento, no qual o homem é o lobo do homem, a racionalidade faz o homem perceber que a melhor forma de conservar a sua vida é perdendo um pouco de liberdade. É neste instante que os homens assinam um contrato fictício de convívio social. A partir desta origem da sociedade, Hobbes pensa no melhor governo para evitar o retorno para um estado de natureza caótico. Com isto, vê a garantia da vida como função vital do Estado, que deve defendê-la mesmo que use de seu poder para coagir a liberdade dos cidadãos.
Pensando na ideia de um contrato social, John Locke (1632 – 1704), em seus dois tratados políticos, escreveu que antes da formação das sociedades os indivíduos não viviam em guerra, pois estavam debaixo de leis naturais. Para ele, é natural a garantia da vida e os homens racionais respeitariam esta lei. A formação das sociedades ocorre pela necessidade da garantia da propriedade. O melhor governo, para Locke, é aquele que garanta os direitos à vida, liberdade, propriedade e de se revoltar contra governos injustos e leis injustas.
Ainda pensando sobre a noção de contrato, Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) via o homem vivendo antes da formação das sociedades de forma bem otimista. Para Rousseau, havia terra e alimento para todos e não haveria motivos para que guerreassem entre si. Via no surgimento da propriedade o surgimento da desigualdade, de onde resultam diversos males sociais, como os roubos e os assassinatos. Neste sentido, sendo impossível retornar a um estado de natureza, o melhor governo é aquele que esteja de acordo com a vontade da maioria.
A forma de pensar dos contratualistas (Hobbes, Locke e Rousseau) foi retomada no século XX por John Rawls (1921 – 2002). Para ele, a sociedade deve basear-se em princípios de justiça escolhidos na fundação da sociedade. Em igualdade, ele pensa, os indivíduos escolheriam dois princípios de justiça, o de liberdades iguais para todos e o de que as desigualdades devem trazer maior benefício para os menos favorecidos e serem acessíveis a todos por igualdade de oportunidade.
Filipe Rangel Celeti
Colaborador Mundo Educação

Bacharel em Filosofia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie – SP 

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

   
Termo Filosofia surgiu na Grécia Antiga para denominar a busca de homem na construção do conhecimento e para o entendimento do que está ao seu redor (natureza, humanidade etc.)

Foi por meio da preocupação em formular uma conhecimento, por meio das condições intelectuais dos seres humanos que a palavra filosofia surgiu. No sentido etmilógico da palavra, Filosofa é a junção de duas expressões gregas:

Philía: Amor / Sophia: Conhecimento. Ou seja,Amor ao Conhecimento”

Nesse Contexto, fazer Filosofia é se colocar na posição de “dúvida”, ou melhor, é questionar o que acontece ao nosso redor, uma vez que, somente com a dúvida que iremos encontrar as respostas. È por meio de hábito de se fazer perguntas que podemos encontrar a verdade sobre algo ou sobre alguma coisa.


OS CAMPOS DA FILOSOFIA:

Lógica:
O estudo da forma e da estrutura do próprio pensamento; procurando assim, o método ideal de raciocínio, análise e pesquisa.

Metafísica:
É o campo mais complexo da Filosofia. Pois compreende o estudo da realidade última das coisas, da natureza do ser, da mente humana, do conhecimento, dos sentidos, das relações entre o homem e a matéria. Analisa as definições, essências e conceito de todas as coisas. Quando questionamos sobre o “que é” ou “o que pode ser” alguma coisa,

Estética:
Quando abordamos questões sobre a finalidade da beleza para o ser humano, ou seja, a natureza do “belo”. Ou seja, é o estudo das formas de representações e das considerações sobre o belo, sobre as artes e demais formas de expressão de cultura.

Ética:
Estuda os valores e atos humanos; busca estabelecer os princípios e a conduta justa.

Política: Estuda as formas de como o homem se organiza em espaços públicos e de como seria uma organização social ideal.

Enfim, o ato de filosofar envolve, fundamentalmente, uma mudança de postura diante da vida, descartando as explicações que nos foram impostas como verdadeiras e estabelecendo novas regras ao jogo. Passamos a ver o mundo de maneira diferente, com um olhar mais atento e certeiro.

Conhecendo além dos aspectos superficiais das coisas, principalmente sua razão de ser, com certeza estaremos mais próximos de uma condição de vida mais livre. De posse dessa condição, podemos lutar pela dignidade humana ou nos tornarmos criaturas passivas, omissas, indiferentes. Todas essas possibilidades dependem, em última análise, do amor que temos pela vida e do respeito que nutrimos por nós mesmos.

CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Atual. 2002.

TEXTO 01:

FILOSOFIA: De que se trata mesmo?

A Filosofia é um modo de pensar, é uma postura diante do mundo. A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos, um sistema acabado, fechado em si mesmo. Ela é, antes de tudo, uma prática de vida que procura pensar os acontecimentos além da sua aparência. Assim, ela pode se voltar para qualquer objeto. Pode pensar a ciência o próprio homem em sua vida cotidiana. Uma Estória em quadrinhos ou uma canção popular podem ser também objeto de reflexão filosófica.

A Filosofia é um jogo irreverente que parte do que existe; critica, coloca em dúvida, faz perguntas importunas, abre a porta das possibilidades, faz-nos entrever outros mundos e outros modos de compreender a vida. O saber filosófico incomoda porque tem no questionamento um grande aliado, haja vista o próprio hábito de questionar sobre o modo de vida da humanidade, por exemplo. Questiona sobre práticas políticas, científicas, sociais, técnicas, econômicas etc. Não há área onde ela não se meta, não indague, não perturbe. E nesse sentido, a Filosofia é perigosa, subversiva, pois viola a ordem estabelecida da cabeça para baixo.
Sua história está ligada aos tempos da Grécia Antiga, por volta do século VI a.C. A grande aventura intelectual não começa propriamente na Grécia Continental, mas em suas colônias – Jônia e Mileto. Como se sabe, o próprio termo filosofia, em seu sentido etimológico, surgiu de duas palavras gregas: Philo e Sophia, amor (fraternal, amizade) e Conhecimento, respectivamente. Significando, portanto: amizade pelo conhecimento, amor e respeito pelo saber.

O filosofo: o que ama a sabedoria tem amizade pelo saber, quem deseja saber. Assim, Filosofia indica o estado de espírito, o da pessoa que ama. Isto é: deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita. A Filosofia é um fato tipicamente grego e é entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático:
·                     Da origem e causas do mundo e suas transformações.
·                     Da origem e causas das ações humanas.
·                     Da origem e causas do próprio pensamento.

Quando se diz que a Filosofia é um fato grego, o que se quer dizer, é que ela possui certas características, apresenta certas formas de pensar e de exprimir os pensamentos, a ação, as técnicas, que são completamente diferentes das características desenvolvidas por outros povos e outras culturas, como por exemplo, os chineses, índios, hindus etc. Nesse contexto, podemos concluir que existe uma sabedoria chinesa, uma hindu, uma pertencente aos índios, mas não a filosofia chinesa, hindu ou indígena.

A reflexão filosófica é um modo de pensar, que surgiu especificamente com os gregos e que por razões históricas, tornou-se depois, o modo de pensar e de se exprimir predominantemente da chamada cultura europeia ocidental, da qual, em decorrência da colonização portuguesa no Brasil, nós também participamos. Nesse contexto, a Filosofia que nasceu por volta do século VI a.C. na Grécia, rejeitava as explicações míticas que, baseadas no sobrenatural, aceitava a interferência de agentes divinos no fenômeno da natureza. Ao buscarem a racionalidade do universo, os filósofos dessacralizam a natureza: retiram dela, a dimensão do sagrado.

Enfim, a esse pensamento reflexivo, com definições e conceitos rigorosos e a coerência interna do discurso a fim de possibilitar o debate e a discussão, chamamos de Filosofia.

TEXTO 02:

Interrogando-se Sobre a Própria Existência: A Busca de Sentido de Ser Humano.

A questão do homem sobre si mesmo é a questão dos homens sobre a humanidade. Quem somos, por que existimos, por que buscamos o sentido das coisas. Há diversas situações da nossa vida em que a pergunta sobre o ser humano e o sentido de sua existência pode aparecer. Além disso, a forma de perguntar sobre este assunto e o tipo de resposta podem variar.

A pergunta pode ser formulada em particular, isto é, cada um pode interrogar a sim mesmo sobre quem, de fato, é e qual o propósito de sua vida. A questão também pode ser formulada no geral, dando um caráter universal ao problema. Nesse caso a existência da humanidade é um desafio que se busca investigar, e aí nos incluímos como parte de um todo.

Alguma vez você ja fez alguma destas perguntas ou ouviu alguém fazê-las?

__ Por que existo?
__Por que estamos aqui neste mundo?
__ Para que viver?
__Qual o sentido da vida?

SÁTIRO, Angélica, WUENSCH, Ana Miriam. Iniciação ao Filosofar. 3ª ed. São Paulo: Saraiva 1999.



O VALOR DA FILOSOFIA


 Tendo agora chegado ao fim de nossa breve e extremamente incompleta revisão dos problemas da filosofia, será bom considerar, para concluir, qual é o valor da filosofia e por que ela deve ser estudada. É da maior necessidade considerar esta questão, tendo em vista o fato de que muitos homens, sob a influência da ciência ou dos negócios práticos, tendem a duvidar de que a filosofia seja algo mais que uma ocupação inocente, porém inútil, com distinções sutis e controvérsias sobre questões acerca das quais o conhecimento é impossível.
            Esta visão da filosofia parece resultar, em parte, de uma concepção equivocada sobre os fins da vida, e, em parte, de uma concepção equivocada sobre a espécie de bens que a filosofia procura alcançar. As ciências físicas, mediante suas invenções, são úteis para inúmeras pessoas que as ignoram completamente; assim, o estudo das ciências físicas deve ser recomendado não apenas, ou principalmente, por causa dos efeitos sobre quem as estuda, mas antes por causa de seus efeitos sobre os homens em geral. Esta utilidade não pertence à filosofia. Se o estudo da filosofia tem algum valor para aqueles que não a estudam, deve ser apenas indiretamente, através de seus efeitos sobre a vida daqueles que a estudam. É em seus efeitos, portanto, que se deve primordialmente procurar o valor da filosofia, se é que ela o tem.
            Mas antes de tudo, se não quisermos fracassar em nosso esforço para determinar o valor da filosofia, devemos em primeiro lugar libertar nossas mentes dos preconceitos dos que são incorretamente denominados de homens “práticos”. O homem “prático”, como esta palavra é freqüentemente empregada, é alguém que reconhece apenas as necessidades materiais, que compreende que o homem deve ter alimento para o corpo, mas se esquece que é necessário procurar alimento para o espírito. Se todos os homens vivessem bem; se a pobreza e as enfermidades tivessem já sido reduzidas o máximo possível, ainda haveria muito a fazer para produzir uma sociedade verdadeiramente válida; e mesmo neste mundo os bens do espírito são pelo menos tão importantes quanto os bens materiais. É exclusivamente entre os bens do espírito que o valor da filosofia deve ser procurado; e só os que não são indiferentes a estes bens podem persuadir-se de que o estudo da filosofia não é perda de tempo.
             A filosofia, como os demais estudos, visa primeiramente o conhecimento. O conhecimento que ela tem em vista é aquela espécie de conhecimento que confere unidade e organização sistemática a todo o corpo do saber científico, bem como o que resulta de um exame crítico dos fundamentos das nossas convicções, dos nossos preconceitos, e das nossas crenças. Mas não se pode dizer, no entanto, que a filosofia tenha tido algum grande êxito na sua tentativa de dar respostas definitivas à suas questões. Se perguntarmos a um matemático, a um mineralogista, a um historiador, ou a qualquer outro homem de saber, que conjunto de verdades concretas foi estabelecido pela sua ciência, sua resposta durará tanto tempo quanto estivermos dispostos a lhe dar ouvidos. Mas se fizermos essa mesma pergunta a um filósofo, terá que confessar, se for sincero, que a filosofia não alcançou resultados positivos como os que foram alcançados por outras ciências. É verdade que isso se explica, em parte, pelo fato de que, assim que se torna possível um conhecimento preciso naquilo que diz respeito a determinado assunto, este assunto deixa de ser chamado de filosofia e torna-se uma ciência especial. Todo o estudo dos corpos celestes, que hoje pertence à astronomia, incluía-se outrora na filosofia; a grande obra de Newton tem por título: Princípios matemáticos da filosofia natural. De maneira semelhante, o estudo da mente humana, que fazia parte da filosofia, está hoje separado da filosofia e tornou-se a ciência da psicologia. Deste modo, a incerteza da filosofia é, em grande medida, mais aparente que real: os problemas para os quais já se tem respostas positivas vão sendo colocados nas ciências, enquanto que aqueles para os quais não se encontrou até hoje nenhuma resposta exata, continuam a constituir esse resíduo que denominamos de filosofia.
            Esta é, no entanto, apenas uma parte da verdade sobre a incerteza da filosofia. Existem muitos problemas ainda – e entre estes os que são do mais profundo interesse para a nossa vida espiritual – que, na medida do que podemos ver, deverão permanecer insolúveis para o intelecto humano, a menos que seus poderes se tornem de uma ordem inteiramente diferente daquela que é atualmente. Tem o universo alguma unidade de plano ou de propósito, ou é um concurso fortuito de átomos? É a consciência uma parte permanente do universo, dando-nos esperança de um aumento indefinido da sabedoria, ou ela não passa de um acidente transitório num pequeno planeta no qual a vida acabará por se tornar impossível? São o bem e o mal importantes para o universo ou apenas para o homem? Estes são problemas colocados pela filosofia, e respondidos de diversas maneiras por vários filósofos. Mas parece que, quer seja, ou não seja possível, descobrir de algum modo respostas, nenhuma das respostas sugeridas pela filosofia pode ser demonstrada como verdadeira. E, no entanto, por fraca que seja a esperança de vir a descobrir uma resposta, é parte do papel da filosofia continuar a examinar tais questões, tornar-nos conscientes da sua importância, examinar todas as suas abordagens, mantendo vivo o interesse especulativo pelo universo, que correríamos o risco de deixar morrer se nos limitássemos aos conhecimentos claramente verificáveis.
            É verdade que muitos filósofos sustentaram que a filosofia pode estabelecer a verdade de certas respostas a tais problemas fundamentais. Supuseram que o mais importante no campo das crenças religiosas pode ser provado como verdadeiro por meio de demonstrações rigorosas. Para julgar estas tentativas, é necessário fazer uma investigação sobre o conhecimento humano, e formar uma opinião quanto a seus métodos e às suas limitações. Sobre estes assuntos é insensato nos pronunciarmos dogmaticamente. Mas se as investigações de nossos capítulos anteriores não nos induziram ao erro, seremos forçados a renunciar à esperança de descobrir provas filosóficas para as crenças religiosas. Não podemos incluir, portanto, como parte do valor da filosofia, uma série de respostas definidas a tais questões. Mais uma vez, portanto, o valor da filosofia não depende de um suposto corpo de conhecimentos definitivamente verificáveis, que possam ser adquiridos por aqueles que a estudam.
            O valor da filosofia, na realidade, deve ser buscado, em grande medida, na sua própria incerteza. O homem que não tem a menor noção da filosofia caminha pela vida afora preso a preconceitos derivados do senso comum, das crenças habituais da sua época e do seu país, e das convicções que cresceram na sua mente sem a cooperação ou o consentimento deliberado de sua razão. Para tal homem o mundo tende a tornar-se finito, definido, óbvio; para ele os objetos habituais não levantam problemas e as possibilidades estranhas são desdenhosamente rejeitadas. Ao contrário, quando começamos a filosofar imediatamente nos damos conta (como vimos nos primeiros capítulos deste livro) que mesmo as coisas mais vulgares levantam problemas para os quais só podemos da respostas muito incompletas. A filosofia, embora incapaz de nos dizer com certeza qual é a resposta verdadeira para as dúvidas que ela própria suscita, é capaz de sugerir diversas possibilidades que ampliam os nossos pensamentos, livrando-os da tirania do hábito. Desta maneira, embora diminua nosso sentimento de certeza sobre o que as coisas são, aumenta muito nosso conhecimento sobre o que as coisas podem ser; rejeita o dogmatismo um tanto arrogante daqueles que nunca chegaram a empreender viagens nas regiões da dúvida libertadora; e mantém vivo nosso sentimento de admiração, mostrando as coisas familiares num determinado aspecto não familiar.
            Além de sua utilidade ao mostrar possibilidades insuspeitadas, a filosofia tem um valor – talvez seu principal valor – por causa da grandeza dos objetos que ela contempla, e da liberdade proveniente da visão rigorosa e pessoal resultante de sua contemplação. A vida do homem reduzido ao instinto encerra-se no círculo de seus interesses particulares; a família e os amigos podem estar incluídos, mas o resto do mundo para ele não conta, exceto na medida em que possa ajudar ou impedir o que surge dentro do âmbito dos desejos instintivos. Numa tal vida existe algo de febril e limitado, em comparação com a qual a vida filosófica é serena e livre. Colocado no meio de um mundo vasto e poderoso que mais cedo ou mais tarde deverá reduzir nosso mundo privado em ruínas, o mundo privado dos interesses instintivos é muito pequeno. A menos que ampliemos os nossos interesses de maneira a compreender todo o mundo exterior, estaremos na condição de uma guarnição numa praça sitiada, sabendo que o inimigo não a deixará fugir e que a capitulação final é inevitável. Não há paz em tal vida, mas uma luta contínua entre a insistência do desejo e a impotência da vontade. De uma maneira ou de outra, se pretendemos uma vida grandiosa e livre, devemos evadir-se desta prisão e desta luta.
            A contemplação filosófica é uma das formas de evasão. A contemplação filosófica, na sua visão mais ampla, não divide o universo em dois campos adversos: amigos e inimigos, aliados e adversários, bons e maus; ela encara o todo imparcialmente. A contemplação filosófica, quando é pura, não visa provar que o restante do universo é semelhante ao homem. Toda a aquisição de conhecimento é um alargamento do nosso Eu, mas este alargamento é melhor alcançado quando não é procurado diretamente. Este alargamento é alcançado, quando opera exclusivamente o desejo de conhecimento, por um estudo que não deseja antecipadamente que seus objetos tenham esta ou aquela característica, mas que adapta o Eu às características que encontra em seus objetos. Este alargamento do Eu não é obtido quando, tomando o Eu como ele é, tentamos mostrar que o mundo é tão similar a este Eu que seu conhecimento é possível sem qualquer aceitação do que parece estranho. O desejo de provar isto é uma forma de auto-afirmação, constitui um obstáculo ao alargamento que deseja do Eu, e do qual o Eu sabe que é capaz. A auto-afirmação, na especulação filosófica como em tudo o mais, vê o mundo como um meio para seus próprios fins; assim, faz menos caso do mundo do que do Eu, e o Eu coloca limites à grandeza de seus bens. Na contemplação, pelo contrário, partimos do não-Eu e, por meio de sua grandeza os limites do Eu são ampliados; através da infinidade do universo a mente que o contempla participa um pouco da infinidade.
            Por esta razão a grandeza da alma não é promovida por aquelas filosofias que assimilam o universo ao Homem. O conhecimento é uma forma de união do Eu com o não-Eu. Como toda união, ela é prejudicada pelo domínio, e, portanto, por qualquer tentativa de forçar o universo a estar em conformidade com o que descobrimos em nós mesmos. Existe uma tendência filosófica muito difundida em relação à visão que nos diz que o Homem é a medida de todas as coisas; que a verdade é uma construção humana; que o espaço e o tempo, e o mundo dos universais, são propriedades da mente, e que, se existe algo que não seja criado pela mente, é algo incognoscível e sem qualquer importância para nós. Esta visão, se nossas discussões anteriores estavam corretas, não é verdadeira; mas além de não ser verdadeira, ela tem o efeito de despojar a contemplação filosófica de tudo aquilo que lhe dá valor, visto que ela aprisiona a contemplação ao Eu. O que tal visão chama de conhecimento não é uma união com o não-Eu, mas uma série de preconceitos, hábitos e desejos, que constituem um impenetrável véu entre nós e o mundo para além de nós. O homem que se compraz numa tal teoria do conhecimento humano assemelha-se ao homem que nunca abandona seu círculo doméstico por receio de que fora dele sua palavra não seja lei.
            A verdadeira contemplação filosófica, ao contrário, encontra a sua satisfação na própria ampliação do não-Eu, em tudo o que engrandece os objetos contemplados e, desse modo, o sujeito que contempla. Na contemplação, tudo aquilo que é pessoal e privado, tudo o que depende do hábito, do interesse pessoal, ou do desejo, deforma o objeto e, por isso, prejudica a união que a inteligência busca. Levantando uma barreira entre o sujeito e o objeto, as coisas pessoais e privadas tornam-se uma prisão para o intelecto. O intelecto livre deverá enxergar assim como Deus pode ver: sem um aqui e agora; sem esperança e sem medo; isento das crenças habituais e dos preconceitos tradicionais: de forma calma e desapaixonadamente, com o único e exclusivo desejo de conhecimento – um conhecimento tão impessoal, tão puramente contemplativo, quanto seja possível a um homem alcançar. Por isso, o espírito livre valorizará mais o conhecimento abstrato e universal no qual não entram os acidentes da história particular, do que o conhecimento trazido pelos sentidos, o qual depende – necessariamente – de um ponto de vista pessoal e exclusivo, e de um corpo cujos órgãos dos sentidos distorcem tanto quanto revelam.

            A mente que se habituou à liberdade e imparcialidade da contemplação filosófica preservará alguma coisa dessa mesma liberdade e imparcialidade no mundo da ação e emoção. Encarará seus objetivos e desejos como partes do Todo, com o desprendimento que resulta de considerá-los como fragmentos ínfimos de um mundo em que todo o resto não é afetado pelas ações dos homens. A imparcialidade, que na contemplação é o desejo puro da verdade, é aquela mesma qualidade espiritual que no âmbito da ação é a justiça, e que no âmbito da emoção é o amor universal que pode ser dado a todos e não apenas àqueles que são considerados úteis ou admiráveis. Assim, a contemplação amplia não apenas os objetos de nossos pensamentos, mas também os objetos das nossas ações e dos nossos sentimentos: ela nos torna cidadãos do universo, e não apenas de uma cidade cercada por muros, em estado de guerra com tudo o mais. A verdadeira liberdade humana, liberta da prisão das esperanças e temores mesquinhos, consiste nesta condição de cidadãos do mundo.             Enfim, para resumir a discussão do valor da filosofia, ela deve ser estudada, não em virtude de quaisquer respostas definitivas às suas questões, uma vez que nenhuma resposta definitiva pode, via de regra, ser conhecida como verdadeira. Ela deve ser estudada por causa dos próprios problemas, porque estes problemas ampliam as concepções que temos acerca do que é possível, enriquecem a nossa imaginação intelectual e diminuem a arrogância dogmática que impede a especulação mental; mas sobretudo porque, graças à grandeza do universo que a filosofia contempla, a mente também engrandece e se torna capaz daquela união com o universo que constitui seu bem supremo.