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domingo, 24 de novembro de 2013

O Objetivo do ensino religioso no Ens. Fundamental.

O papel do ensino religioso ou cultura religiosa e sua prática no ensino fundamental vem resguardar e abordar eixos fundamentais que fomentam a formação cidadã, humana e também de cunho religiosa.


A prática da cultura religiosa nas escolas remete antes de qualquer outra tentativa de justificativa a necessidade de levar aos alunos a reflexão da abordagem cultural e existencial que a educação religiosa contempla. Em sala, os alunos em contato com textos e atividades de reflexão, agem como sujeitos pensantes em torno da diversidade, da pluralidade de sentidos, da necessidade da unidade a fim de superar as intolerâncias. O ensino religioso é uma proposta que estabelece a unidade, a convivência e a dialogia; é tornar o indivíduo construtor e colaborador de uma sociedade onde persista o respeito pelas diversas manifestações religiosas e culturais. É missão de um ensino religioso favorecer ao estudante possibilidades para que desperte a solidariedade, a justiça, o respeito e a sensibilidade pela dignidade humana.
A presença do trabalho continuado dos valores é um dos papeis do ensino religioso, mas ultrapassa esses critérios de formação, levemos em consideração que educar requer não apenas um ensaio dos valores como forma de rememorar, é além disso; ensinar a partir do cenário social, da violência, do consumo exacerbado, da intolerância religiosa, e da não aceitação do novo e do diferente, tem sido desafiador e conflitante.


Vejo o E.R como uma ferramenta que vem proporcionar recursos, assentar bases para construção da personalidade, estabelecendo fundamentos em vista de que as crianças e adolescentes estejam parcialmente aptos a sobreviverem em um cenário social do mundo globalizado em constantes revoluções.

É o E.R que facilita o individuo a uma consciência de si mesmo e que leva a criança e o adolescente, aproveitará das possibilidades para pensar e atuar. Atitudes, reflexão, valores , estrutura histórica, aceitação, respeito e entre outras; são palavras que por si mesmas já exprimem a utilidade desse componente curricular para o Ens.Fundamental, é esse componente que contribui de forma especial para estabelecer o auto conhecimento, sensibilidade, otimismo , disciplina, sentido critico, respeito pelo novo, etc.
                                                           
Professor Jhonatan dos Santos Ferreira
Participou do Projeto de formação continuada do E.R da Escola de Educação e Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. 

RELAÇÕES ÉTNICOS-RACIAIS E O CENÁRIO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Texto de abertura oficial da culminância do projeto Valorização das Relações étnico –raciais . E.E. da Fazenda da Betânia ( Pedreira- Itabira.MG)




O projeto valorização das relações étnicas raciais tem como finalidade por propostas das atividades desenvolvidas envolvendo todas as disciplinas, criar oportunidades para que toda a comunidade escolar conheça a trajetória histórica do povo negro no Brasil e na sua construção da cidadania plena. Além disso, colocar em discussão uma questão tanto antiga quanto atual como o racismo e o antirracismo no Brasil desenvolvendo as competências e habilidades de reflexão na identidade, de modo a pensar e agir contra todas as formas de discriminação existentes nos ambientes escolares e também fora dele.
Ressalto aqui, ao elaborar esse projeto com a comunidade escolar, a urgência de um olhar mais minucioso ao tratar a cultura afro brasileira e as resistências predominantes ainda até mesmo por parte de educadores. A questão que levanto, consiste em identificar e conscientizar que a cultura afro brasileira é o berço da nossa história e de nossas matrizes culturais, o que não justifica que fiquemos apenas centrados em pequenos projetos e ações escolares isoladas e sem fundamentação, sendo essa discussão, mais um fato isolado e tratado como segundo plano. Surge aqui a necessidade de reverter esse quadro, o que questiono tomo a liberdade de  direcionar a todos nós professores: Como trabalhar e formar os nosso adolescentes para uma cidadania mais igualitária, se nós mesmos somos cheios de resistências e um preconceito camuflado? A educação para a igualdade é possível em um ambiente escolar dotado de resistências?
Tratar das relações étnicos raciais na educação no Brasil requer de nós educadores uma sensibilização e respeito pela diversidade, essa vertente deve perpassar todas as disciplinas em todo o ano letivo, ela é transversal,  a proposta viabiliza a inserção desse conteúdo nos currículos disciplinares.   A escola que não se abre, planeja e intervém em prol do respeito e da criação da igualdade racial, priva os alunos do verdadeiro exercício da cidadania pautada na diferença. 
O racismo e as práticas discriminatórias vivenciadas pelo segmento populacional negro brasileiro não apenas heranças de um passado distante, mas vêm sendo produzidas e realimentadas ao longo do tempo. Constitui-se, assim, um instrumento que fortalece as desigualdades observadas na contemporaneidade. Um exemplo disso ocorre na realidade educacional.
Para tanto faz-se necessário à escola reverter esta situação adversa tecendo novas propostas, fazendo frente às situações discriminatórias que jovens e adolescentes negros estão expostos no ambiente escolar  e na sociedade como um todo.
Assim, é de fundamental importância tratar as questões raciais no ambiente escolar de forma interdisciplinar, pois, desta forma eles aprenderão a conceitos, analisarão fatos e poderão ser sensibilizados para intervir na sua realidade a fim transformá-la.
É tempo de mudarmos a história da exclusão do negro na educação brasileira, que esse projeto seja uma de muitas ações a serem fomentadoras da inserção digna dos afros brasileiros, é tempo também de revermos as nossas praticas educacionais, aprender, transmitir e relacionar é preciso.

                 

Professor  Jhonatan dos Santos Ferreira 
É graduado em filosofia presbiteral pela Universidade Católica de Minas Gerais/IDJ

Pós graduando em gestão integrada 

Participou do projeto de formação continuada de E.R da Escola de Educação e Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

Professor da rede publica de ensino-leciona Filosofia, sociologia e cultura Religiosa.

 E--MAIL Jhonatansantosfer@hotmail.com


sábado, 7 de setembro de 2013

Educação Religiosa: uma reflexão abrangente as culturas afro –brasileiras e indígenas

A concepção de ensino religioso no Brasil passa a aderir no ano e 1997 um espaço na esfera pedagógica, ou seja, não se restringe apenas ao víeis teológico propriamente, mas, ao contrário, é submetido a uma releitura e abrindo-se a possíveis discussões ao que refere-se à diversidade.
Mudado o cenário de diálogo e de relação, a educação religiosa visa ser adaptada aos parâmetros curriculares.
A tarefa à qual nos concentramos aqui, é pois, buscar apresentar o porquê do acréscimo das culturas afro-brasileiras e indígenas ao currículo da educação religiosa.
Iniciemos por considerar que, o conceito de religião está estritamente ligado à cultura, é neste âmbito, que podemos trazer aos alunos a abertura para o diálogo a tratar da diversidade, afirmando que ao falar do diverso não negamos a existência do diferente.
Ao recorrermos ao conceito de cultura, e, se tratando da atribuição da cultura afro –brasileira e indígena em hipótese alguma podemos nos privar de fazer uma memória à vertente histórica do povo brasileiro, deste do descobrimento do Brasil.
A abordagem dessas culturas no ensino religioso é abertura ao entendimento das nossa matrizes históricas e religiosas, uma vez que não é possível estabelecer e abrir –se para a dialogia pautada na necessidade da diversidade sem ater-nos as raízes.
Começando por identificar que o povo brasileiro herda de uma transmissão cultural que se amplia as vertentes afro e indígenas, e que, foram esses povos que ocuparam um papel importante no solo brasileiro, trouxeram e nos deixaram aspectos multiculturais aos quais herdamos, ou até mesmo com o passar do ciclo histórico formam fontes de pluralismo, isto é; fazer memória e criar espaço para geração da identidade religiosa de um povo.
A reflexão pode ser pautada na prática de didáticas pedagógicas elaboradas com a finalidade de conscientizar, resgatar e formar o estudante para a superação de toda e qualquer modalidade de preconceito acerca dessas culturas, que até então eram vistas como esquecidas e minoritárias. Uma das atitudes a serem assumidas pelo projeto pedagógico consiste à abertura à a valorização da diversidade etnicorracial, para assim, tratar de modo igualitário as heranças civilizatória permeada pela história e cultura negra e indígena.
                                                                           JHONATAN DOS SANTOS FERREIRA



A CULTURA COMO FORMA DE CRIAÇÃO DA IDENTIDADE

No início dos estudos da história, conhecemos que a descoberta do Brasil foi rica de significados e expressões que marcaram e marcam até os dias de hoje o rosto de nosso país.
Começando por entender que antes dos portugueses chegarem as nossas terras, já se encontravam aqui os primeiros habitantes; os índios considerados nativos.
Por todo processo da evolução da história, nosso país foi recebendo marcas e expressões de uma realidade do período do Brasil colônia com a presença mesmo que tardia da chegada do período escravocrata com os negros vindos da África.
O Brasil foi palco de grandes mudanças e adaptações no processo histórico cultural e a exemplo disso percebemos que o solo brasileiro herdou de expressões, mitos e simbologias que são frutos das culturas indígenas e afro.
Contudo, temos que aceitar que antes de falarmos de uma cultura brasileira, precisamos antes recorrer e conhecermos a cultura do povo indígena e afro, esse processo é necessário, pois se trata de um retorno as nossa fontes e as origens que deram sentido à cultura do povo brasileiro.
Recorrer as matrizes históricas é o primeiro passo necessário para a compreensão e resgate das tradições que permeiam nosso Brasil.
Do samba, das festividades, das cantigas de roda, das histórias, do folclore, da culinária, de tudo que é cultura e expressão de um povo, sempre existe um pouco de nossas matrizes culturais.
A formação da identidade cultural de um povo é sempre marcada pelas raízes históricas, é nesse momento que podemos ousar falarmos da importância do estudo da cultura e das tradições que formam o povo brasileiro.
O que não é conhecido, jamais pode ser amado e valorizado, corre sempre o risco de se perder no tempo pelo fato de não ser revivido e reafirmado como parte de nossa história, assim também, é uma cultura.
É por esse motivo que precisamos valorizar o que temos como patrimônio histórico e cultural de nosso povo; recorrer à relatos, histórias, mitos, é disseminar e educar para o respeito das diversas manifestações culturais presentes em nosso país.

                                                      JHONATAN DOS SANTOS FERREIRA



sexta-feira, 2 de agosto de 2013

DIVERSIDADE E PLURALISMO CULTURAL

Da prática do ensino religioso à necessidade do enfoque cultural


Iniciamos por tratar da necessidade do estudo das diversas manifestações culturais que estão estritamente ligadas a fenômenos religiosos. O que nos norteia aqui é a relação que há na prática do ensino religioso com a necessidade da ênfase à diversidade cultural.
Nos artigos propostos para essa atividade, deparamos de início com o questionamento gerado em torno das concepções de religião, concepções essas, norteadas pelo eixo cultural.
 Com a paradigmática mudança de concepção de religião como algo restrito a prática de cultos, crenças, etc, a religião ganha um espaço na esfera cultural, ou seja, a religião é um fenômeno de manifestação cultural, e se ousamos falar de culturas, temos que aceitar também as diversidades religiosas, sendo que as culturas são constantemente diversas.
Religião é parte do domínio histórico, o que justifica a pluralidade religiosa de mitos, ritos e simbologias que, de tal forma estão ligados a fenômenos ou a divindades cultuadas nas respectivas culturas.
A necessidade de relacionar a prática do ensino religioso com a diversidade cultural encontra-se na amplitude que a disciplina tem a dialogar com o caráter cultural, não apenas com os nomes ou rituais das diversas religiões, mas também, ir ao encontro do desconhecido, abrindo assim novos horizontes.
A prática do ensino religioso tem por missão ir além do conceitual de religião, deve, pois, resgatar e trazer aos alunos o que há de valor nas culturas, atribuindo assim, uma forma concreta de disseminação de conhecimento e desejo por desvendar o que ainda é oculto ao nosso conhecimento.
Despertar nos alunos o desejo por conhecer sobre as religiões e as culturas, é reafirmar a necessidade de estabelecer um diálogo que respeite a diversidade e os valores culturais que por si geram o sentido de religião.
 A religião também é um instrumento de transmissão de conhecimento, pelo qual, os alunos podem conhecer-se a si mesmos no anseio de resgatar suas origens culturais, gerando consequentemente a formação da identidade, de uma cultura.

A compreensão do sentido de religião permeada pelo víeis histórico, possibilitará a compreensão do surgimento e os adeptos religiosos existentes, levará também, a uma formação de valores ao que diz respeito ao diferente, ao novo.
É de fato, formar para uma consciência de que é possível conviver com o diferente, sendo a diversidade um sinal de abertura ao diálogo respeitoso, sem que, cada um, na sua cultura, com seu modo de ser religioso, com seus cultos não percam de vista o que os unem; a necessidade de expressar o que tem em seu seio cultural.
Portanto, a relação existente entre o ensino religioso e a diversidade cultural consiste na prática de um ensino que, favoreça aos alunos a abertura para uma reflexão histórica para assim, chegar a compreensão do sentido de religião e o porquê da existência de diversas religiões, é o diálogo religioso e cultural que impulsiona a fraternidade universal.


Jhonatan dos Santos Ferreira- Graduado em filosofia presbiteral. PUC MINAS 

segunda-feira, 29 de julho de 2013

VIVÊNCIA INAUTÊNTICA

 A Vivência inautêntica
                                                           Imergir no impessoal junto ao mundo das ocupações revela que a presença (Dasein) foge de si mesma como seu próprio poder-ser propriamente. (HEIDEGGER, 1998, p.247)
   É sob a ótica heideggeriana de conceito de impessoalidade que iniciaremos nossa abordagem acerca da vivência inautêntica. A citação acima nos orientará no que tange a compreensão de como o Dasein está sempre vulnerável à impessoalidade podendo, assim, se ater a uma fuga constante de ser si mesmo. No quarto capítulo de Ser e Tempo Heidegger se atém a investigar o ser- no –mundo, o ser-com e o ser-próprio e diante dessa temática podemos recordar que; o Dasein está lançado no mundo e sendo
no mundo ele é ser-com os outros e é ele mesmo conforme segue a citação:
 “[...] o Dasein é um ser no mundo que está envolto por numerosos seres como ele é por outros entes que dele se diferenciam, simples entes que não possuem o caráter de Dasein, por não possuírem esta condição de abertura para o ser.” (NAVES, 2009, p.66)

Heidegger nos orienta a retomar a diferenciação que há entre o Dasein e os outros entes que existem e nos orienta também acerca da margem de possibilidades que podem haver na relação do homem com o outros entes, ou  seja, mesmo em constantes relações o Dasein pode optar por desviar-se do Man (impessoal).
A impessoalidade estará sempre para o Dasein, uma vez que ele é ser de relações e não pode se abster de estar passivo ao Man. O caráter da impessoalidade está condicionado ao fato de que o Dasein sempre convive consigo e com os outros, de tal modo que nenhum homem é dotado de capacidade de existir sem estar aberto às convivências com outros entes. O conviver com os outros é estar aberto ao impessoal de tal modo que: “Este conviver dissolve inteiramente a própria presença (Dasein) no modo de ser do outro e isso de tal maneira que os outros desaparecem ainda mais em sua possibilidade de diferença e expressão. (HEIDEGGER, 1998, p.179).
Uma vez que o Dasein se abre ao Man, ele passa a ver a questões de sua existência também de maneira impessoal e, no que concerne ao tema da finitude, a cotidianeidade experimenta a realidade do ser –para- a –morte de uma maneira impessoal, quando o Dasein está  aberto a uma impessoalidade está também para um falatório[1] (Das Gerede).  O evento do falatório faz com que a morte torne-se um caso  de morte, ou seja, o Dasein desvia de ter que assumir a certeza de sua finitude, o que o leva a não aceitar sua condição existencial, assim também todas as questões de cunho existencial  passam a não ter mais lugar na cotidianidade do Dasein.
Essa atitude gerada pelo falatório leva o Dasein a entender que a morte é um evento reservado ao impessoal, “o ninguém, o alguém”, nesse sentido a finitude existencial para o impessoal é um evento que vai ocorrer ainda, é um por vir, nesse contexto a morte perde-se no impessoal, ela torna-se um fato externo que atinge inesperada e improvisamente o existir inautêntico do Dasein. Aproximando-nos das colocações heideggerianas sobre a condição existencial do Dasein, somos sempre levados a tratar do tema da morte e no que concerne compreender quais são as relevâncias que dirigem o existir do Dasein a uma vida inautêntica compreendemos que a inautenticidade é gerada pelo horror da finitude, o Dasein não deseja pensá-la nem experimentá-la, passa a observar a morte como um morrer dos outros; o Dasein torna-se despreocupado com as questões de sua existência, se refugiando na indiferença, na tranquilidade e na curiosidade.
O viver inautêntico é mascarado pelo desvio da certeza da finitude, é uma postura adquirida pelo homem lançado à impessoalidade, é a impessoalidade que orienta o homem à banalização das questões da sua própria existência, leva o homem a deturpar a angústia visando assim fugir da possibilidade da morte.     
Podemos assim considerar que o que leva o Dasein a viver de modo inautêntico é a constante fuga da morte, ele tende à ocupação[2] (Besorgen), vivendo de coisas meramente passageiras e desprovidas de sentido, é um renunciar a si mesmo se perdendo na massa e nas ocupações. O Dasein inautêntico vive sem uma visão de conjunto da existência (passado, presente e futuro), mas ao contrário, vive focado no presente, aderindo ao impessoal, o Dasein tende a passar a se comportar como decadente, aquele que renuncia ao seu ser autêntico ser no mundo, dispondo da capacidade de decidir e se acomodar ao presente.
Podemos levar sob julgamento se toda essa queda sofrida pelo ser do Dasein na vida inautêntica possa também ter uma positividade, aceitando que ele torna-se importante para que o próprio homem, mediante a “perda do eu”, passe a tomar consciência e se esforce para resgatar a sua autenticidade, retirar o Dasein do vazio é uma tomada de decisão que implica responsabilidade. O Dasein tem um potencial para contornar a situação de inautenticidade, sendo que:
[...] o que se espera do Dasein é aquela transcendência assumida frente às suas potencialidades, suas reais capacidades, o que de forma nenhuma é algo que se consegue sem esforços contínuos e inúmeras renúncias no transcorrer da existência. (NAVES, 2009, p.74)

Neste âmbito, livrar-se de uma impessoalidade requer do Dasein uma postura radical e firme em vista da possibilidade de um projeto de vida no mundo mais autêntico, de tal forma que se o Dasein permanece na inautenticidade é consequência de uma estagnação na vida inautêntica, ele se torna imóvel e conformado com seu estado atual.
Chegamos, portanto, a questionar se o que condicionaria o Dasein a uma vida inautêntica seria apenas fatores externos ao próprio ser do Dasein no mundo, contudo podemos considerar que Heidegger analisa o ser do Dasein e tudo o que o circunda. A adesão pela vivência autêntica ou não, é resultado de uma série de fatores que perduram ao ser do Dasein, ou seja, são fenômenos citados anteriormente, gerados pela certeza da condição existencial do Dasein. É diante da certeza da morte que estes fenômenos são manifestados, ao passo que também a inautenticidade pode se especificar como um dos norteadores que contribuem para o sentimento de perda do sentido de ser no mundo (Das In-der-Welt-Sein), a inautenticidade pode, sim, ser fruto de mudanças dos valores sociais e de uma crescente infelicidade por parte da humanidade, ao fugir de sua condição de existente.
Podemos considerar que os fatores externos também condicionam o viver inautêntico do Dasein, pois eles podem servir de instrumentos para uma possível fuga do Dasein para evitar um confronto com a angústia, fenômeno que quando não é aceito priva o Dasein de se encontrar e viver autenticamente. Esses fatores externos sob essa temática aqui abordada podem receber uma nova roupagem levando em consideração a problemática do tema da valorização da vida e existência na sociedade atual; isso nos leva a perceber que a problemas de cunho filosófico existencial podem ser agregados outras vias de interpretação.



 TEXTO DE : JHONATAN DOS SANTOS FERREIRA-GRADUADO EM FILOSOFIA .PUC.MINAS





[1] Falatório (Das Gerede): “ O termo alemão (reden) significa falar, discursar, discorrer. Dele se derivou a forma “ das Geredete” para exprimir uma conotação específica de excesso, superficialidade e descompromisso com o que se fala. Esta conotação, porém, corresponde a uma tendência constitutiva do exercício concreto da existência . Para traduzi-lo, recorreu-se ao uso corrente da palavra falatório.” ( HEIDEGGER, 1998, p.323)
[2] Ocupação (Besorgen): “Não sendo uma substância, a presença sempre se dá num exercício. Exercício indica e cumpre um centro irradiador de relações. Este termo exprime-se com derivados de Sorge (cura): Besorgen (ocupar-se) e Fursorge (preocupar-se).” (HEIDEGGER, 1998, p.312)

quinta-feira, 28 de março de 2013

DO ASSOMBRO AO SENTIDO DE SER


DO ASSOMBRO AO SENTIDO DE SER
Na reta estrada da vida vamos olhando os passos já dados.
Na reta e nas curvas, somos orientados, e também desorientados, ao que somos e temos de ser, mesmo que seja não por muito tempo. Afinal, a vida é constante incerteza.
Lançados ao véu da existência, questionadores somos; de uma incerteza certa. No tempo e no limiar dos passos, se vão nossas persistentes perguntas acerca do que realmente somos.
Da existência, ao desejo de conferir sentido à vida, eis ai o porquê quem sabe poderíamos dizer a nós mesmos e ao mundo, que antes viemos a este lugar para sermos questionadores.
E o que é viver? E se nunca soubermos o porquê da vida? Seremos menos indignos de gozar dela?
Do medo, do desejo, do sonho e do anseio; surgem um indagar existencial;  um questionar que orienta e ao mesmo tempo causa a verdadeira desorientação, mas, paciência minha gente! Quem disse que não é por intermédio da dúvida que muitos conseguiram respostas plausíveis a questionamentos diversos?
Do medo e do assombro também surge um questionador, do assombro surge o desejo de desvendar o sentido de ser e o gosto do verdadeiro filosofar. É o ser que se desvenda filosofando.

TEXTO: JHONATAN DOS SANTOS FERREIRA
Graduado em filosofia -Puc.Minas 

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O Dasein livre e ser de possibilidades


2.2 O Dasein livre e ser de possibilidades

       O caráter da eleição do Dasein, deve antes passar pela aceitação de sua condição de existente no mundo. Antes de se eleger, ele deve tomar consciência de que ele é ser de possibilidades (Mogligchkeit) e estar ciente de que quem confere sentido ao seu modo de existir é ele próprio, ele é senhor de suas escolhas e decisões; na liberdade ele busca seu modo de ser no mundo e ser com (Mitsein).
O modo de existir do Dasein está sujeito a duas possibilidades fundamentais, ao que Heidegger nomeia autenticidade e inautenticidade. É pautado na reflexão da escolha de uma vivência autêntica ou não que muitos estudos vêm sendo realizados nos dias atuais acerca da perda de sentido de ser no mundo e consequentemente das interferências das relações.
Artigos e estudos vêm sendo realizados à luz da liberdade na eleição do modo de existir do Dasein; percebe-se concretamente que a influência dos estudos filosóficos a tratar do sentido do ser não perdeu seu espaço e importância, ainda hoje essa problemática vem sendo bastante desenvolvida.
Como um ente concreto que é o Dasein pode escolher-se a si mesmo na autenticidade ou abandonar esta escolha aderindo assim à inautenticidade. Para tratarmos de uma liberdade na escolha do modo de existência do Dasein, devemos antes nos situar ao tema da morte, mesmo não sendo aqui o fenômeno a ser tratado com bastante enfoque. As possibilidades do ser do Dasein estão intrinsecamente ligadas à aceitação da sua condição de existente, ou seja, a condição de mortal; é aqui que o ser mediante o seu existir cotidiano, no dia a dia, assume ou não a sua condição de mortal e decide se eleger como um ser autêntico ou inautêntico. O homem está aberto à possibilidade de viver intensamente o presente.
Apresentado o que se refere o neologismo Dasein e pontuadas previamente as possibilidades inerentes a ele, justifica uma abordagem, a título introdutório, acerca do que venha a ser a liberdade levando em consideração a aplicabilidade de seu significado para o desenvolvimento desse capítulo. A concepção de liberdade aqui explanada traz em sua essência a potencialidade de transcendência inerente ao homem, ou seja, ao Dasein. Comenta Thomas Ransom Giles o pensamento heideggeriano: “A transcendência é da própria essência do ser –aí, pois não é tanto o que é, mas também foi e não é, será o que agora não é. É de alguma maneira uma possibilidade colocada entre dois nadas, o passado e o futuro.’’ (GILES, apud. Naves, 2009, p.70). É visível o grau de proximidade acerca da semelhança e a dependência entre liberdade e o ato de transcender. É a transcendência[1] que tem por si a capacidade de um rompimento e negação das coisas, o que é propiciador para um bom uso da liberdade. Pode-se então dizer que há uma liberdade e uma transcendência no existir projetivo, ou seja, o modo de ser do Dasein impulsionado pela liberdade de escolha de seu modo de existir é o Dasein que é lançado como um projeto no mundo, e em meios às possibilidades ele se integra, uma vez que o existencialismo em si “[...]salienta a subjetividade, a responsabilidade e a liberdade individual do homem, que este só pode esquecer por má fé.” (SILVA, 2011, p.38).
Nada nem ninguém podem privar do Dasein essa sua conquista de ser livre, apesar das manipulações e das interferências do mundo onde ele está inserido. Ele tem em sua subjetividade um resquício da liberdade, assim, em todas as suas escolhas e eleições o Dasein é livre. Mesmo diante das manipulações possíveis o Dasein é livre.
Por fim, podemos considerar que é mediante uma reflexão acerca da liberdade que podemos assim situarmos o que seja a vivência inautêntica ou em terminologia apropriada, a autenticidade, que deve cruzar um percurso unida assim à consciência (Bewusstsein). É por meio da consciência que o Dasein toma a liberdade como parte integrante de seu ser; assim a consciência serve de orientadora e tem a tarefa de dirigir o Dasein ao contato e experiência do fenômeno da angústia, fenômeno esse que abordaremos no próximo tópico, levaremos em consideração a interpretação de Heidegger frente a influência da angústia sendo ela inerente ao ser do Dasein, é ela que impulsiona o Dasein a confrontar-se com inquietudes existenciais, podendo assim dar um passo à conferir sentido verdadeiro a sua vida, veremos  como o fenômeno da angústia pode ser também deturpado, gerando assim um temor da morte, algo que resultará numa vivência inautêntica.





[1] Segundo Martin Heidegger, o transcender é “relação entre homem (Dasein) e o mundo (...) O que é ultrapassado é própria e unicamente o próprio ente, isto é, qualquer ente que possa ser desvelado ou desvelar-se ao Dasein e, portanto, justamente aquele ente que o Dasein é, enquanto existindo, é ele mesmo.’’ Heidegger, portanto, considera a ‘’transcendência’’ como o significado do ser- no – mundo. Com isso a capacidade de “transcender’’ se refere a própria liberdade do homem perante o seu mundo na realização das possibilidades e projetos seus. (ABBAGNANO: 1982, p.931).














Significância do neologismo Dasein


2.1 Significância do neologismo Dasein
  Uma vez apresentada na introdução desse tópico a intenção de Heidegger em livrar-se de uma conceituação generalizada do ser, em uma Metafísica por ele considerada do “esquecimento do ser”, e frente à necessidade de um sentido do ser que fora em sua obra Ser e Tempo elucidado a partir dos parágrafos um e dois acerca da problemática do sentido do ser, dirigimo-nos agora a uma compreensão do que seja o Dasein, visando de tal modo apresentar o fenômeno da liberdade no modo da eleição do Dasein.
Em sua obra Ser e Tempo, Heidegger faz uso do neologismo Dasein para se referir ao ser do homem com suas aberturas de possibilidades de ser no mundo. É com referência ao Dasein que toda a sua reflexão filosófica ganha uma roupagem inovadora frente às abordagens já existentes. Heidegger, foi o primeiro a aplicar em sua investigação o neologismo Dasein.
 Para Heidegger, o Dasein é um ser no mundo, ser-aí, ser com os outros, é um modo de ser do homem que o faz ser privilegiado (personalizado) frente aos outros seres existentes, ou seja, aos entes intramundanos. O Dasein significa o modo de ser, de existir do existente, de um ente particular que é o homem. 
Justifica salientar que ao referir-se ao mundo em que o Dasein se insere, Heidegger o apresenta sobe três acepções: Umwelt utilizado para fazer menção ao ambiente, mundo à nossa volta; Mitwelt aplicado ao mundo-com, com as pessoas que estão em relação e, por último, o Selbswelt: que se aplica ao mundo próprio.
É o próprio Dasein que confere sentido a tudo que existe no mundo; ele existe como um conjunto de coisas utilizáveis que sempre estão à disposição, que é lançado à mão do Dasein, é ele quem atribui utilização às coisas.
Diz Heidegger em sua investigação da conjuntura[1] (Bewandtnis) e significância, no parágrafo dezoito, que é por intermédio do mundo que o que se manuseia está à mão. A expressão “ser no mundo” leva-nos a reconhecer que o Dasein traz consigo em sua bagagem ontológica a abertura para as relações; ele está vinculado ao mundo, é esta vinculação que constitui a sua existência, sendo no mundo, ele é ser com, ou seja, está lançado às relações, ele é presença, ele em seu ato de existir não se reduz a uma realidade dada e acabada, mas se abre a uma realidade que deve ser conquistada, projetada. O Dasein é um poder ser, é um projeto.
Comentadores de Heidegger traduzem o neologismo Dasein como presença, o existente aí, disponível, etc. Atendo-se à busca do modo de ser do homem no mundo Heidegger faz reflexões que muito contribuíram e contribuem nos dias atuais para uma melhor consideração ao que diz respeito ao modo de ser do Dasein.  O Dasein é ser de relações e o único que tem consciência de sua existência, assim como ser consciente ele tem a liberdade de eleger-se no mundo das possibilidades, o caráter da liberdade é um fato que norteia o modo de ser do Dasein, é na liberdade que o homem frente às possíveis formas do existir se elege.



















[1] Conjuntura: Ser e Tempo reserva esse substantitivo para caracterizar o processo de possibilitação da integração dos diversos modos de ser no mundo. ( HEIDEGGER, 1988, p.317)

UMA INTRODUÇÃO ACERCA DA METAFÍSICA DO ESQUECIMENTO DO SER.


2 UMA INTRODUÇÃO ACERCA DA METAFÍSICA DO ESQUECIMENTO DO  SER.



Embora nosso tempo se arrogue o progresso de afirmar novamente a metafísica, a questão aqui equivocada caiu no esquecimento. (Heidegger, 1988, p.27)                                                             
A investigação pertinente a esse trabalho parte da problemática de uma abordagem da Metafísica do esquecimento do ser para posteriormente abordarmos nos seguintes tópicos a inautenticidade e autenticidade existenciais embasadas nos escritos de Martin Heidegger, sobretudo em sua obra Ser e Tempo (Sein und Zeit), publicada no ano de 1927. Em seu tratado, Heidegger passa a assumir a atitude investigativa acerca da estrutura e primado da questão do ser. Ele visa, pois, aprofundar em sua investigação o genuíno sentido do ser. Nesse processo investigativo o ser é o objeto central. Por meio de estudos realizados sobre o tempo e suas implicações, o filósofo aqui abordado busca conferir sentido ao ser no horizonte temporal, ou seja, o homem como sendo sempre inserido num mundo, num espaço, numa realidade.
 A filosofia heideggeriana não se priva da investigação do ser, mas, sim dá a ela uma continuidade a fim de chegar até a resposta da grande problemática do caráter ontológico existencial. Esse caráter que consiste em entender o que é o ser e o que o faz ser na sua essência, uma vez que o homem sempre foi e será objeto de estudo, e, indagação filosófica e centro de uma busca conforme afirma Heidegger:
Deve-se colocar a questão do sentido do ser. Tratando-se de uma ou até da questão fundamental, seu questionamento necessita, portanto, de uma transparência conveniente. Todo questionamento é uma procura. Toda procura retira do procurado sua direção prévia. Questionar é procurar cientemente o ente naquilo que é e como ele é. A procura ciente pode transformar-se em investigação se o que se questiona for determinado de maneira libertadora. (HEIDEGGER, 1988, p. 30).

  Levando em consideração que a questão do sentido do ser devia sempre ser colocada, Heidegger, ao analisar a filosofia antiga que se embasava numa Metafísica e em uma ontologia, percebe que o declínio das questões sobre o ser perduravam levando a considerar que a questão do ser caia no esquecimento. Isso pelo fato do ser ter sido submetido a uma tendência de definição que generalizava, não realizando a distinção entre ser e ente[1].  Não obstante, Platão e Aristóteles, tomaram posicionamento em uma investigação sobre o ser, mas não de forma a realizar a distinção acima citada. Aos filósofos que os sucederam, consideremos que fizeram apenas uma retomada aos questionamentos ontológicos previamente levantados por Platão e Aristóteles; muitos filósofos na tentativa de definir o ser levaram em consideração alguns preconceitos já ocorridos nos expoentes gregos supracitados, ou seja, na leitura heideggeriana muitos filósofos recorrem as vezes ao caráter da generalidade absoluta na tentativa de definir o ser, o grande equivoco se instaura aí, o ser não pode se reduzir a ser definido em uma generalidade absoluta, apenas como um ente,  isso faz com que ele se desvalorize de tal modo, perdendo seu caráter de autenticidade, são esses preconceitos que orientam uma indiferença a respeito do problema do ser.
A fim de compreendermos em que consiste a Metafísica do esquecimento do ser recorremos a uma prévia retomada a concepção de ser atribuída pelos filósofos que marcaram o ocidente, a saber; Platão e Aristóteles levando em consideração que:
Platão é para o conjunto da tradição o protótipo do filósofo e marcou toda a história do pensamento ocidental, toda a filosofia ocidental, diz Heidegger é platonismo. Metafísica, idealismo, platonismo, significam a mesma coisa por essência. (HEIDDEGER,apud Boutot, p.78)

Sendo o platonismo um marco na história filosofia do ocidente aproximemos-nos das concepções do ser atribuídas por Platão e que repercutiu em seus predecessores a fim de chegarmos à compreensão do que Heidegger vai considerar como Metafísica do esquecimento do ser. Sabemos que o que marca a história da filosofia do Ocidente é também a busca pelo ser, mas de tal modo o ser investigado na categoria dos entes, ou seja, na concepção dos filósofos ocidentais o ser era tudo que existia, um objeto, um ente concreto, o que para Heidegger consiste em enquadrar o ser a um reducionismo, é baixar a categoria de ser aos entes, é uma Metafísica do esquecimento do ser pelo fato da própria tradição reduzir o ser ao ente, é uma forma de relegar o ser de tal forma que: “A metafísica, que reina sem concessões sobre a filosofia ocidental, desde Platão, é conduzida por uma por uma questão essencial: que é o ente? [...] ela procura saber o que constitui a essência ou a entidade (Seiendheit) do ente.” (BOUTOT, 1988, p.75).

Tanto Platão como Aristóteles, coloca a questão do ser como fundamento para estabelecer uma ciência (episteme) ou sabedoria (sophia), coloca o ser na esfera do inteligível e não do sensível, o ser é substância, é tudo que existe em um mundo das ideias, aqui nessa concepção verificamos que há uma redução do ser no mundo físico para o mundo inteligível, no campo da pura realidade abstrata. Dessa forma o objeto que confere a investigação Metafísica não se reduz a qualquer ser, mas ao contrário, investiga o ser enquanto ser, é essa investigação que levaria a elaborar uma ciência superior a todas as outras; a “Metafísica”. Para Heidegger o problema do ser ainda não havia sido colocado de modo peculiar uma vez que a tradição Metafísica apresentava lacunas pelo fato de não se aderir a uma investigação mais pertinente sobre o ser.
[...] a questão sobre o sentido do ser não somente ainda não foi resolvida ou mesmo colocada de modo suficiente, como também caiu no esquecimento apesar de todo o interesse pela metafísica. (HEIDEGGER, 1988, p.50)

A problemática é estabelecida a partir da constituição do conceito de ser e entes, daí surgirá após a guinada do pensamento filosófico da investigação ontológica do ser a necessidade de distinguir entes de seres. A Metafísica do esquecimento do ser vai se assentar na consideração do ser como mero ente, levando a considerar que tudo que existe é ser, e essa atitude de generalização não atribuía sentido ao ser. O conceito de ser é o que vai nortear o caráter investigativo de Heidegger quando passa a assumir a necessidade de uma investigação baseada na estrutura e primado da questão do ser, sendo que: “[...] o ser é sempre o ser de um ente.” (HEIDEGGER, 1998, p.35). Dessa consideração percebemos que Heidegger vai inaugurar a necessidade de colocar a questão do ser rompendo assim com a tradição Metafísica, Heidegger coloca a questão do ser sob uma ótica não reducionista e generalista.
A manifestação e reação de Heidegger é contra uma generalização, uma não definibilidade e uma evidência do ser. Para ele, estes são os preconceitos que devem ser aniquilados. Com isso verificamos que a questão ontológica do ser sempre foi um desafio e perdura até os dias de hoje, e sabemos também que responder à problemática do sentido do ser é uma tarefa árdua e que merece ser tratada mediante uma estrutura investigativa que dê conta de responder as questões básicas do ser, tais como a diferença entre ser e ente. Heidegger verifica que sua investigação deveria partir antes de um ente concreto para se chegar então à estrutura ontológica do ser, aqui ele se assenta sobre o argumento de que deveria antes passar por uma análise ontológica para se chegar a elucidar acerca de questões mais concretas. Seus escritos assim como de outros filósofos não se abstém de um plano, e é com base nesse plano que antes de dar uma resposta ao problema do ser Heidegger passa a considerar o ser e o ente, neste sentido ele começa a perceber que filósofos do Ocidente caíram na tentação de definir o ser de modo que não havia uma distinção entre ser e ente, aqui ocorre o que Heidegger considera o preconceito da generalidade.
          Identificamos a problemática e a tentativa de Heidegger em dar uma resposta ao que é ser, começando pelo passo de livrar o próprio ser de um conceito generalizado, passaremos também a tratar da compreensão da Metafísica do esquecimento do ser, pontuaremos de forma breve alguns expoentes e também verificaremos que apesar de uma visão muitas vezes opostas à de Heidegger as reflexões destes filósofos que iremos aludir aqui contribuíram para impulsionar Heidegger em dar uma resposta acerca do problema do esquecimento do ser, os preconceitos dos filósofos que iremos mencionar deram a  Heidegger o  motivo necessário para um posicionamento que culminou em uma postura de rompimento com uma forma de conceber o ser.
Martin Heidegger assim também como outros estudiosos que se dedicaram ao estudo do ser, dirige de modo peculiar ao estudo da estrutura e primado da questão do ser, ponto que é tratado no primeiro capítulo na obra Ser e Tempo, que demonstra e nos deixa compreender que a busca de um conceito do ser é uma tarefa árdua.
Ele nos levará a compreender que “[...] ser é o conceito mais universal.” (Heidegger, 1988, p.28) o que não nos dá o direito de assumir que sendo um conceito universal, não seja muitas vezes um conceito de difícil compressão. O objetivo aqui não é fazer uma história da filosofia, mas sim demonstrar o posicionamento de Heidegger sobre a Metafísica, nessa sua investigação ele trata de elucidar que: “[...] os pensadores que o precederam omitiram, salvo exceção, a questão do ser, que eles deixaram no esquecimento sem se darem conta, de resto de seu próprio esquecimento.” (BOUTOT, 1991, p.69).
É com referência ao título “Metafísica do esquecimento do ser” que Heidegger no início de sua investigação passa a levantar questionamentos que validam e passam a aderir-se a uma leitura crítica, se posicionando contra o modo que os filósofos concebiam o ser. A tarefa de Heidegger era realizar um estudo sobre o ser no mundo em vista de recolocar o seu sentido que, segundo ele, estava se dissolvendo por consequência de uma Metafísica que levara o ser ao seu estado de esquecimento.
A sua filosofia tem como objetivo a indagação em torno do ser que, segundo ele, fora esquecida pela Metafísica tradicional.
Esse esquecimento se deu em virtude do fato da tradição metafísica ter se convertido numa ontologia da substância, aquela que visualizava o ser em geral a partir da primazia da coisa, ou, dito de outro modo, que toma a coisa como paradigma de representação para tudo o que é. (BARBOSA, 1988, p.2)

Heidegger vai distinguir a Metafísica, enquanto esquecimento do ser, em três épocas no processo histórico: “os gregos: Platão e Aristóteles; depois os romanos e a Idade Média; e, por fim, a época Moderna: (Descartes, Kant e Nietzsche)” (BOUTOT, 1991, p.77). 
Cada um desses expoentes acima citados contribuíram de forma decisiva para uma disseminação particular de conceitos ao ser, ou seja, em cada período a Metafísica instalada dava ao ser um sentido, um conceito novo era atribuído a ele.  Essas épocas não estão ligadas, conforme segue a citação;                   
Elas não estão encadeadas umas nas outras à maneira hegeliana, mas formam, diz Heidegger; uma sequência livre e, todavia, de modo paradoxal, constituem igualmente etapas decisivas na consolidação do esquecimento do ser. (HEIDEGGER, apud Boutot, 1991, p.77)

O que fundamentava a filosofia antiga, e, por conseguinte toda a tradição filosófica era, pois, o homem (Dasein) tal como existe o ser- aí, sendo que “[...] todas as filosofias, segundo Heidegger, colocaram o sujeito (Dasein) no centro de sua problemática ontológica. A filosofia dos gregos não escapa a esta regra [...]” (BOUTOT, 1991, p. 71). A tradição ocidental aderiu-se sim às determinações do ser do ente orientando-os sobre o Dasein, mas é nesse sentido que a tradição passa a falhar, pois, os pensadores do ocidente passaram a negligenciar qualquer forma de interrogação possível acerca da estrutura ontológica do ser. É a filosofia do ocidente que recebe o marco do platonismo, da Metafísica, do idealismo e tem em comum a essência.
É Platão o responsável por edificar as linhas norteadoras de toda a Metafísica. Em sua concepção o ser e o ente ocupam espaços diferentes; “O ser não se encontra na coisa presente, mas para além, na ideia, que não é uma representação subjetiva, mas o aspecto ou face inteligível da própria coisa. ’’ (BOUTOT,1991.p.78)
  A Metafísica aristotélica por sua vez é uma forma de retomada, que vai além de Platão, o que não significa que Aristóteles chegou a encontrar a essência da autenticidade do ser. “A filosofia aristotélica pertence, pois, à história do platonismo e não escapa a esse título à história do esquecimento do ser.’’ (BOUTOT, 1991, p.79). O modo de pensar de Aristóteles é uma atualidade das coisas e não uma mera ideia de transcendentalismo, sua filosofia tem um marco significante na filosofia heideggeriana, e não deixa de se aderir a um realismo que vai se desenvolver como oposição ao idealismo de Platão. Podemos considerar que a filosofia de Aristóteles tem uma correlação com a filosofia platônica.
O período dos romanos representava um marco no processo histórico do pensamento do ocidente. Essa época “[...] é responsável, não apenas pelo enterro do pensamento grego primitivo, ou seja, do domínio original da verdade do ser que aflorava ainda em locais da filosofia de Platão e Aristóteles, mas também pela constituição do pensamento moderno.” (BOUTOT, 1991, p.79). 
A essência do período romano reside em assumir que o ser é a expressão do real no que tange a afetividade, essa foi uma determinação que percorreu ao longo de toda a história da filosofia do ocidente e, por conseguinte culminou nos tempos modernos atuais.
Vimos até aqui que, mesmo com a não intenção de apresentarmos uma história da filosofia, tivemos quer recorrer ao processo histórico para pontuar brevemente aspectos que nos levam a compreender o cenário onde de instaurou a Metafísica do esquecimento do ser e das concepções de ser que foram atribuídas em cada época. Heidegger de tal modo recorre às reflexões dos filósofos supracitados e são as teses desses filósofos, que serviram como inspiração para que houvesse um paralelo com a postura investigativa Heideggeriana a tratar do ser, assim diremos que Heidegger atribui ao problema do ser uma nova roupagem, ou seja, o insere no âmbito temporal, algo que outros filósofos não haviam suscitado ainda em suas considerações filosóficas. Isso se dá a partir do instante em que sua investigação passa a trazer colocações partindo do diálogo e da crítica com os filósofos que ele o colocou na categoria de expoentes da Metafísica do esquecimento do ser, Heidegger dá essa nova roupagem preparando a chegada de um pensamento mais autêntico sobre o ser, mostrando de tal modo que, o que se deveria pensar era o ser, o que ele vai nomear; Dasein, esse ser que ocupa um lugar, um espaço no mundo, é um ser-aí, no horizonte da temporalidade.
Os tempos modernos são considerados o grande marco de uma história da Metafísica, iniciando assim com a influência de Descartes a significância dada ao ser advém, pois, de “um período em que predominava uma nova determinação da verdade como certitude.’’
[...] Esta nova determinação da essência da verdade vai a par com a entrada do ser na esfera da representação ( o ser enquanto ideia), e com  a promoção do homem  à posição de sujeito, isto é, à posição de fundamento e de medida da verdade das suas representações, e portanto, do próprio ser. (BOUTOT, 1991, p.80).

                                     O ser considerado enquanto ideia que está para o âmbito da representação, leva-nos a reflexão acerca de uma possível veracidade. Podemos levar em conta que o “ser” se reduz a ser apenas no campo da mera representação. A tese de Descartes faz com que este se enquadre também na linha da Metafísica do esquecimento do ser mediante as colocações de Heidegger, estas que visam livrar-se dos possíveis preconceitos gerados pelos filósofos ao tentarem dar uma resposta no que consiste o ser.
     A filosofia de Kant assume o ponto de referência no cerne da filosofia moderna, torna-se o centro não meramente ao que se refere à temporalidade histórica percorrida, mas sim da história, isso pelo modo que aborda os princípios metafísicos deixados pela moderna filosofia de Descartes. Kant com sua Metafísica vai caracterizar o ser afirmando que; “[...] o ser reside nas condições de possibilidade da experiência. Estas desenham a estrutura da objetividade, ou ainda, o plano do ser do ente encontrado na experiência.” (BOUTOT, 1991, p.81). É a concepção de ser atribuída por Kant que constitui o ser como condição de possibilidade.
Ao aproximarmos dessa breve retomada ao contexto histórico frente ao esquecimento do ser na Metafísica, pontuemos Nietzsche que também contribuiu para o marco do esquecimento do ser com sua interpretação. Nietzsche “[...] inverte a Metafísica e promove o ente sensível, o mundo da vida e do devir, a posição do ente verdadeiro, e baixa o ser ao nível da pura ilusão, do que não tem qualquer afetividade.’’ (BOUTOT, 1991, p.81). É em Nietzsche, que a Metafísica vai passar a se enquadrar numa espécie de estado terminal, ou seja, se aproxima da falência de sua influência, ela começa a esmorecer-se. Expressa Heidegger: “[...] Nietzsche pensa a entidade do ente enquanto condição, enquanto aquilo que torna possível, apto, pensa o ser absolutamente no sentido platônico e metafísico.’’ (HEIDEGGER, apud. Boutot, 1991, p.82) ele leva o esquecimento do ser ao seu ápice.
Na intenção de conferir o verdadeiro sentido ao ser e colocá-lo em contraposição ao ente, ou, seja, o ente não é ser, cita Heidegger; “[...] o ser, não pode ser concebido como ente; enti non aliqua natura: o ser não pode ser determinado, acrescentando-lhe um ente.” (HEIDEGGER, 1988, p.28).
Verificamos até aqui que a tarefa de Heidegger era livrar-se dos preconceitos trazidos pela Metafísica, assumindo assim uma postura crítica frente à tendência de generalização do ser e conferir-lhe o sentido que lhe competia, sentido esse que consistia em atribuir ao ser não um sentindo que o identificasse com a objetividade, isto é, com a simples presença dos entes.
  Aqui já se percebe uma distinção sutil e preliminar acerca da concepção de ente e ser, e também em sua abordagem. Heidegger recorre aos entes intramundanos[2] para demonstrar que o Dasein está em relação a outros entes existentes e de tal modo o distanciar desses outros entes com caráter de superioridade, ou seja, o Dasein exerce uma superioridade frente ao outros entes, Heidegger vai separar o ser da categoria de ente, para o ser que tem em si uma superioridade pelo fato de dispor da possibilidade de saber quem ele é, e de se questionar, ao contrário dos entes intramundanos que não passam de algo que é, é tudo o que está aí, é tudo o que existe, mas de modo inferior ao ser (Dasein). A história da Metafísica é vista por Heidegger como uma corrente que procura dar um sentido ao ser indagando apenas os entes, identificando-se assim o ser com a mera presença dos entes, em sua investigação Heidegger conceitua a história da Metafísica como a história do esquecimento do ser.
 Portanto, uma vez já exposta a visão de Heidegger frente aos expoentes da Metafísica do esquecimento do ser, e também a sua tentativa de conferir sentido ao ser, passemos agora à compreensão do uso do neologismo utilizado por Heidegger em seu estudo sobre o ser; veremos o conceito, a aplicabilidade e seu significado. É acerca desse neologismo que se desenvolve toda a investigação filosófica de Heidegger presente, no primeiro tópico desse trabalho.



[1] Ente: Diz Heidegger: “Chamamos de entes muitas coisas, em sentidos diferentes. Ente é tudo aquilo de que falamos, aquilo a que, de um modo ou outro, nós mesmos somos”(Heidegger, 1988, p.29)
Enquanto ciência do ente, e não do ser enquanto tal, a metafísica é, necessariamente, dimorfa, A metafísica diz Heidegger: “[...] representa de uma dupla maneira a entidade do ente”.(HEIDEGGER apud Boutot, p.76)

[2] Entes intramundanos: são todos os outros entes existentes que não tem consciência de sua existência, é tudo o que existe, são entidades não humanas que estão no mundo.