2 UMA
INTRODUÇÃO ACERCA DA METAFÍSICA DO ESQUECIMENTO DO SER.
Embora nosso tempo se
arrogue o progresso de afirmar novamente a metafísica, a questão aqui equivocada
caiu no esquecimento. (Heidegger, 1988, p.27)
A
investigação pertinente a esse trabalho parte da problemática de uma abordagem
da Metafísica do esquecimento do ser
para posteriormente abordarmos nos seguintes tópicos a inautenticidade e
autenticidade existenciais embasadas nos escritos de Martin Heidegger,
sobretudo em sua obra Ser e Tempo (Sein und Zeit), publicada no ano de
1927. Em seu tratado, Heidegger passa a assumir a atitude investigativa acerca
da estrutura e primado da questão do ser. Ele visa, pois, aprofundar em sua
investigação o genuíno sentido do ser. Nesse processo investigativo o ser é o
objeto central. Por meio de estudos realizados sobre o tempo e suas implicações,
o filósofo aqui abordado busca conferir sentido ao ser no horizonte temporal,
ou seja, o homem como sendo sempre inserido num mundo, num espaço, numa
realidade.
A filosofia heideggeriana não se priva da
investigação do ser, mas, sim dá a ela uma continuidade a fim de chegar até a resposta
da grande problemática do caráter ontológico existencial. Esse caráter que
consiste em entender o que é o ser e o que o faz ser na sua essência, uma vez
que o homem sempre foi e será objeto de estudo, e, indagação filosófica e
centro de uma busca conforme afirma Heidegger:
Deve-se colocar a
questão do sentido do ser. Tratando-se de uma ou até da questão fundamental,
seu questionamento necessita, portanto, de uma transparência conveniente. Todo
questionamento é uma procura. Toda procura retira do procurado sua direção
prévia. Questionar é procurar cientemente o ente naquilo que é e como ele é. A
procura ciente pode transformar-se em investigação se o que se questiona for
determinado de maneira libertadora. (HEIDEGGER, 1988, p. 30).
Levando
em consideração que a questão do sentido do ser devia sempre ser colocada,
Heidegger, ao analisar a filosofia antiga que se embasava numa Metafísica e em uma ontologia, percebe
que o declínio das questões sobre o ser perduravam levando a considerar que a
questão do ser caia no esquecimento. Isso pelo fato do ser ter sido submetido a
uma tendência de definição que generalizava, não realizando a distinção entre
ser e ente.
Não obstante, Platão e Aristóteles,
tomaram posicionamento em uma investigação sobre o ser, mas não de forma a
realizar a distinção acima citada. Aos filósofos que os sucederam, consideremos
que fizeram apenas uma retomada aos questionamentos ontológicos previamente
levantados por Platão e Aristóteles; muitos filósofos na tentativa de definir o
ser levaram em consideração alguns preconceitos já ocorridos nos expoentes
gregos supracitados, ou seja, na leitura heideggeriana muitos filósofos
recorrem as vezes ao caráter da generalidade absoluta na tentativa de definir o
ser, o grande equivoco se instaura aí, o ser não pode se reduzir a ser definido
em uma generalidade absoluta, apenas como um ente, isso faz com que ele se desvalorize de tal
modo, perdendo seu caráter de autenticidade, são esses preconceitos que
orientam uma indiferença a respeito do problema do ser.
A
fim de compreendermos em que consiste a Metafísica
do esquecimento do ser recorremos a uma prévia retomada a concepção de ser
atribuída pelos filósofos que marcaram o ocidente, a saber; Platão e
Aristóteles levando em consideração que:
Platão é para o
conjunto da tradição o protótipo do filósofo e marcou toda a história do
pensamento ocidental, toda a filosofia ocidental, diz Heidegger é platonismo.
Metafísica, idealismo, platonismo, significam a mesma coisa por essência.
(HEIDDEGER,apud Boutot, p.78)
Sendo
o platonismo um marco na história filosofia do ocidente aproximemos-nos das
concepções do ser atribuídas por Platão e que repercutiu em seus predecessores
a fim de chegarmos à compreensão do que Heidegger vai considerar como Metafísica do esquecimento do ser.
Sabemos que o que marca a história da filosofia do Ocidente é também a busca
pelo ser, mas de tal modo o ser investigado na categoria dos entes, ou seja, na
concepção dos filósofos ocidentais o ser era tudo que existia, um objeto, um
ente concreto, o que para Heidegger consiste em enquadrar o ser a um
reducionismo, é baixar a categoria de ser aos entes, é uma Metafísica do esquecimento do ser pelo fato da própria tradição
reduzir o ser ao ente, é uma forma de relegar o ser de tal forma que: “A
metafísica, que reina sem concessões sobre a filosofia ocidental, desde Platão,
é conduzida por uma por uma questão essencial: que é o ente? [...] ela procura
saber o que constitui a essência ou a entidade (Seiendheit) do ente.” (BOUTOT, 1988, p.75).
Tanto
Platão como Aristóteles, coloca a questão do ser como fundamento para
estabelecer uma ciência (episteme) ou sabedoria (sophia), coloca o ser na
esfera do inteligível e não do sensível, o ser é substância, é tudo que existe
em um mundo das ideias, aqui nessa concepção verificamos que há uma redução do
ser no mundo físico para o mundo inteligível, no campo da pura realidade abstrata.
Dessa forma o objeto que confere a investigação Metafísica não se reduz a qualquer ser, mas ao contrário, investiga
o ser enquanto ser, é essa investigação que levaria a elaborar uma ciência superior
a todas as outras; a “Metafísica”.
Para Heidegger o problema do ser ainda não havia sido colocado de modo peculiar
uma vez que a tradição Metafísica
apresentava lacunas pelo fato de não se aderir a uma investigação mais
pertinente sobre o ser.
[...] a questão sobre
o sentido do ser não somente ainda não foi resolvida ou mesmo colocada de modo
suficiente, como também caiu no esquecimento apesar de todo o interesse pela
metafísica. (HEIDEGGER, 1988, p.50)
A
problemática é estabelecida a partir da constituição do conceito de ser e
entes, daí surgirá após a guinada do pensamento filosófico da investigação
ontológica do ser a necessidade de distinguir entes de seres. A Metafísica do esquecimento do ser vai se
assentar na consideração do ser como mero ente, levando a considerar que tudo
que existe é ser, e essa atitude de generalização não atribuía sentido ao ser.
O conceito de ser é o que vai nortear o caráter investigativo de Heidegger
quando passa a assumir a necessidade de uma investigação baseada na estrutura e
primado da questão do ser, sendo que: “[...] o ser é sempre o ser de um ente.”
(HEIDEGGER, 1998, p.35). Dessa
consideração percebemos que Heidegger vai inaugurar a necessidade de colocar a
questão do ser rompendo assim com a tradição Metafísica, Heidegger coloca a questão do ser sob uma ótica não
reducionista e generalista.
A
manifestação e reação de Heidegger é contra uma generalização, uma não
definibilidade e uma evidência do ser. Para ele, estes são os preconceitos que
devem ser aniquilados. Com isso verificamos que a questão ontológica do ser sempre
foi um desafio e perdura até os dias de hoje, e sabemos também que responder à
problemática do sentido do ser é uma tarefa árdua e que merece ser tratada
mediante uma estrutura investigativa que dê conta de responder as questões
básicas do ser, tais como a diferença entre ser e ente. Heidegger verifica que
sua investigação deveria partir antes de um ente concreto para se chegar então
à estrutura ontológica do ser, aqui ele se assenta sobre o argumento de que
deveria antes passar por uma análise ontológica para se chegar a elucidar
acerca de questões mais concretas. Seus escritos assim como de outros filósofos
não se abstém de um plano, e é com base nesse plano que antes de dar uma
resposta ao problema do ser Heidegger passa a considerar o ser e o ente, neste
sentido ele começa a perceber que filósofos do Ocidente caíram na tentação de
definir o ser de modo que não havia uma distinção entre ser e ente, aqui ocorre
o que Heidegger considera o preconceito da generalidade.
Identificamos a problemática e a
tentativa de Heidegger em dar uma resposta ao que é ser, começando pelo passo de
livrar o próprio ser de um conceito generalizado, passaremos também a tratar da
compreensão da Metafísica do
esquecimento do ser, pontuaremos de forma breve alguns expoentes e também
verificaremos que apesar de uma visão muitas vezes opostas à de Heidegger as
reflexões destes filósofos que iremos aludir aqui contribuíram para impulsionar
Heidegger em dar uma resposta acerca do problema do esquecimento do ser, os
preconceitos dos filósofos que iremos mencionar deram a Heidegger o motivo necessário para um posicionamento que
culminou em uma postura de rompimento com uma forma de conceber o ser.
Martin
Heidegger assim também como outros estudiosos que se dedicaram ao estudo do
ser, dirige de modo peculiar ao estudo da estrutura e primado da questão do
ser, ponto que é tratado no primeiro capítulo na obra Ser e Tempo, que demonstra e nos deixa compreender que a busca de
um conceito do ser é uma tarefa árdua.
Ele
nos levará a compreender que “[...] ser
é o conceito mais universal.” (Heidegger, 1988, p.28) o que não nos dá o
direito de assumir que sendo um conceito universal, não seja muitas vezes um
conceito de difícil compressão. O objetivo aqui não é fazer uma história da
filosofia, mas sim demonstrar o posicionamento de Heidegger sobre a Metafísica, nessa sua investigação ele
trata de elucidar que: “[...] os pensadores que o precederam omitiram, salvo
exceção, a questão do ser, que eles deixaram no esquecimento sem se darem
conta, de resto de seu próprio esquecimento.” (BOUTOT, 1991, p.69).
É
com referência ao título “Metafísica do esquecimento do ser” que Heidegger no
início de sua investigação passa a levantar questionamentos que validam e
passam a aderir-se a uma leitura crítica, se posicionando contra o modo que os
filósofos concebiam o ser. A tarefa de Heidegger era realizar um estudo sobre o
ser no mundo em vista de recolocar o seu sentido que, segundo ele, estava se
dissolvendo por consequência de uma Metafísica
que levara o ser ao seu estado de esquecimento.
A
sua filosofia tem como objetivo a indagação em torno do ser que, segundo ele,
fora esquecida pela Metafísica
tradicional.
Esse esquecimento se
deu em virtude do fato da tradição metafísica ter se convertido numa ontologia
da substância, aquela que visualizava o ser em geral a partir da primazia da
coisa, ou, dito de outro modo, que toma a coisa como paradigma de representação
para tudo o que é. (BARBOSA, 1988, p.2)
Heidegger vai distinguir a Metafísica, enquanto esquecimento do
ser, em três épocas no processo histórico: “os gregos: Platão e Aristóteles;
depois os romanos e a Idade Média; e, por fim, a época Moderna: (Descartes,
Kant e Nietzsche)” (BOUTOT, 1991, p.77).
Cada um desses expoentes acima citados
contribuíram de forma decisiva para uma disseminação particular de conceitos ao
ser, ou seja, em cada período a
Metafísica instalada dava ao ser um sentido, um conceito novo era atribuído
a ele. Essas épocas não estão ligadas,
conforme segue a citação;
Elas não estão
encadeadas umas nas outras à maneira hegeliana, mas formam, diz Heidegger; uma
sequência livre e, todavia, de modo paradoxal, constituem igualmente etapas
decisivas na consolidação do esquecimento do ser. (HEIDEGGER, apud Boutot,
1991, p.77)
O que fundamentava a
filosofia antiga, e, por conseguinte toda a tradição filosófica era, pois, o
homem (Dasein) tal como existe o ser-
aí, sendo que “[...] todas as filosofias, segundo Heidegger, colocaram o
sujeito (Dasein) no centro de sua
problemática ontológica. A filosofia dos gregos não escapa a esta regra [...]”
(BOUTOT, 1991, p. 71). A tradição ocidental aderiu-se sim às determinações do
ser do ente orientando-os sobre o Dasein,
mas é nesse sentido que a tradição passa a falhar, pois, os pensadores do
ocidente passaram a negligenciar qualquer forma de interrogação possível acerca
da estrutura ontológica do ser. É a filosofia do ocidente que recebe o marco do
platonismo, da Metafísica, do
idealismo e tem em comum a essência.
É Platão o responsável por edificar as linhas
norteadoras de toda a Metafísica. Em
sua concepção o ser e o ente ocupam espaços diferentes; “O ser não se encontra
na coisa presente, mas para além, na ideia, que não é uma representação
subjetiva, mas o aspecto ou face inteligível da própria coisa. ’’
(BOUTOT,1991.p.78)
A Metafísica aristotélica por sua vez é uma
forma de retomada, que vai além de Platão, o que não significa que Aristóteles
chegou a encontrar a essência da autenticidade do ser. “A filosofia
aristotélica pertence, pois, à história do platonismo e não escapa a esse
título à história do esquecimento do ser.’’ (BOUTOT, 1991, p.79). O modo de
pensar de Aristóteles é uma atualidade das coisas e não uma mera ideia de
transcendentalismo, sua filosofia tem um marco significante na filosofia
heideggeriana, e não deixa de se aderir a um realismo que vai se desenvolver
como oposição ao idealismo de Platão. Podemos considerar que a filosofia de
Aristóteles tem uma correlação com a filosofia platônica.
O período dos romanos representava um marco no processo
histórico do pensamento do ocidente. Essa época “[...] é responsável, não
apenas pelo enterro do pensamento grego primitivo, ou seja, do domínio original
da verdade do ser que aflorava ainda em locais da filosofia de Platão e
Aristóteles, mas também pela constituição do pensamento moderno.” (BOUTOT,
1991, p.79).
A essência do período romano reside em
assumir que o ser é a expressão do real no que tange a afetividade, essa foi
uma determinação que percorreu ao longo de toda a história da filosofia do
ocidente e, por conseguinte culminou nos tempos modernos atuais.
Vimos até aqui que, mesmo com a não intenção
de apresentarmos uma história da filosofia, tivemos quer recorrer ao processo
histórico para pontuar brevemente aspectos que nos levam a compreender o
cenário onde de instaurou a Metafísica do
esquecimento do ser e das concepções de ser que foram atribuídas em cada época.
Heidegger de tal modo recorre às reflexões dos filósofos supracitados e são as
teses desses filósofos, que serviram como inspiração para que houvesse um
paralelo com a postura investigativa Heideggeriana a tratar do ser, assim
diremos que Heidegger atribui ao problema do ser uma nova roupagem, ou seja, o
insere no âmbito temporal, algo que outros filósofos não haviam suscitado ainda
em suas considerações filosóficas. Isso se dá a partir do instante em que sua
investigação passa a trazer colocações partindo do diálogo e da crítica com os
filósofos que ele o colocou na categoria de expoentes da Metafísica do esquecimento do ser, Heidegger dá essa nova roupagem
preparando a chegada de um pensamento mais autêntico sobre o ser, mostrando de
tal modo que, o que se deveria pensar era o ser, o que ele vai nomear; Dasein, esse ser que ocupa um lugar, um
espaço no mundo, é um ser-aí, no horizonte da temporalidade.
Os tempos modernos são considerados o grande
marco de uma história da Metafísica,
iniciando assim com a influência de Descartes a significância dada ao ser
advém, pois, de “um período em que predominava uma nova determinação da verdade
como certitude.’’
[...]
Esta nova determinação da essência da verdade vai a par com a entrada do ser na
esfera da representação ( o ser enquanto ideia), e com a promoção do homem à posição de sujeito, isto é, à posição de
fundamento e de medida da verdade das suas representações, e portanto, do
próprio ser. (BOUTOT, 1991, p.80).
O ser considerado enquanto ideia
que está para o âmbito da representação, leva-nos a reflexão acerca de uma
possível veracidade. Podemos levar em conta que o “ser” se reduz a ser apenas
no campo da mera representação. A tese de Descartes faz com que este se enquadre
também na linha da Metafísica do
esquecimento do ser mediante as colocações de Heidegger, estas que visam
livrar-se dos possíveis preconceitos gerados pelos filósofos ao tentarem dar
uma resposta no que consiste o ser.
A filosofia de Kant assume o ponto de
referência no cerne da filosofia moderna, torna-se o centro não meramente ao
que se refere à temporalidade histórica percorrida, mas sim da história, isso
pelo modo que aborda os princípios metafísicos deixados pela moderna filosofia
de Descartes. Kant com sua Metafísica
vai caracterizar o ser afirmando que; “[...] o ser reside nas condições de
possibilidade da experiência. Estas desenham a estrutura da objetividade, ou
ainda, o plano do ser do ente encontrado na experiência.” (BOUTOT, 1991, p.81).
É a concepção de ser atribuída por Kant que constitui o ser como condição de possibilidade.
Ao aproximarmos dessa breve retomada ao
contexto histórico frente ao esquecimento do ser na Metafísica, pontuemos Nietzsche que também contribuiu para o marco
do esquecimento do ser com sua interpretação. Nietzsche “[...]
inverte
a Metafísica e promove o ente sensível, o mundo da vida e do devir, a posição
do ente verdadeiro, e baixa o ser ao nível da pura ilusão, do que não tem
qualquer afetividade.’’ (BOUTOT, 1991, p.81). É em Nietzsche, que a Metafísica vai passar a se enquadrar
numa espécie de estado terminal, ou seja, se aproxima da falência de sua
influência, ela começa a esmorecer-se. Expressa Heidegger: “[...] Nietzsche
pensa a entidade do ente enquanto condição, enquanto aquilo que torna possível,
apto, pensa o ser absolutamente no sentido platônico e metafísico.’’
(HEIDEGGER, apud. Boutot, 1991, p.82) ele leva o esquecimento do ser ao seu
ápice.
Na
intenção de conferir o verdadeiro sentido ao ser e colocá-lo em contraposição
ao ente, ou, seja, o ente não é ser, cita Heidegger; “[...] o ser, não pode ser
concebido como ente; enti non aliqua
natura: o ser não pode ser determinado, acrescentando-lhe um ente.”
(HEIDEGGER, 1988, p.28).
Verificamos
até aqui que a tarefa de Heidegger era livrar-se dos preconceitos trazidos pela
Metafísica, assumindo assim uma
postura crítica frente à tendência de generalização do ser e conferir-lhe o
sentido que lhe competia, sentido esse que consistia em atribuir ao ser não um
sentindo que o identificasse com a objetividade, isto é, com a simples presença
dos entes.
Aqui já se percebe uma distinção sutil e
preliminar acerca da concepção de ente e ser, e também em sua abordagem.
Heidegger recorre aos entes intramundanos
para demonstrar que o Dasein está em
relação a outros entes existentes e de tal modo o distanciar desses outros
entes com caráter de superioridade, ou seja, o Dasein exerce uma superioridade frente ao outros entes, Heidegger
vai separar o ser da categoria de ente, para o ser que tem em si uma
superioridade pelo fato de dispor da possibilidade de saber quem ele é, e de se
questionar, ao contrário dos entes intramundanos que não passam de algo que é,
é tudo o que está aí, é tudo o que existe, mas de modo inferior ao ser (Dasein). A história da Metafísica é vista por Heidegger como
uma corrente que procura dar um sentido ao ser indagando apenas os entes,
identificando-se assim o ser com a mera presença dos entes, em sua investigação
Heidegger conceitua a história da Metafísica
como a história do esquecimento do ser.
Portanto, uma vez já exposta a visão de
Heidegger frente aos expoentes da Metafísica
do esquecimento do ser, e também a sua tentativa de conferir sentido ao ser,
passemos agora à compreensão do uso do neologismo utilizado por Heidegger em
seu estudo sobre o ser; veremos o conceito, a aplicabilidade e seu significado.
É acerca desse neologismo que se desenvolve toda a investigação filosófica de
Heidegger presente, no primeiro tópico desse trabalho.
Ente: Diz
Heidegger: “Chamamos de entes muitas coisas, em sentidos diferentes. Ente é
tudo aquilo de que falamos, aquilo a que, de um modo ou outro, nós mesmos
somos”(Heidegger, 1988, p.29)
Enquanto ciência do ente, e não do ser
enquanto tal, a metafísica é, necessariamente, dimorfa, A metafísica diz
Heidegger: “[...] representa de uma dupla maneira a entidade do
ente”.(HEIDEGGER apud Boutot, p.76)
Entes
intramundanos: são todos os outros entes existentes que não tem consciência de
sua existência, é tudo o que existe, são entidades não humanas que estão no
mundo.