2.2 O Dasein livre e ser de possibilidades
O caráter da eleição do Dasein, deve antes passar pela aceitação de sua condição de
existente no mundo. Antes de se eleger, ele deve tomar consciência de que ele é
ser de possibilidades (Mogligchkeit)
e estar ciente de que quem confere sentido ao seu modo de existir é ele
próprio, ele é senhor de suas escolhas e decisões; na liberdade ele busca seu
modo de ser no mundo e ser com (Mitsein).
O modo de existir do Dasein está sujeito a duas possibilidades fundamentais, ao que
Heidegger nomeia autenticidade e inautenticidade. É pautado na reflexão
da escolha de uma vivência autêntica ou não que muitos estudos vêm sendo
realizados nos dias atuais acerca da perda de sentido de ser no mundo e
consequentemente das interferências das relações.
Artigos e estudos vêm sendo
realizados à luz da liberdade na eleição do modo de existir do Dasein; percebe-se concretamente que a influência dos estudos filosóficos
a tratar do sentido do ser não perdeu seu espaço e importância, ainda hoje essa
problemática vem sendo bastante desenvolvida.
Como um ente concreto que é o Dasein pode escolher-se a si mesmo na
autenticidade ou abandonar esta escolha aderindo assim à inautenticidade. Para
tratarmos de uma liberdade na escolha do modo de existência do Dasein, devemos antes nos situar ao
tema da morte, mesmo não sendo aqui o fenômeno a ser tratado com bastante
enfoque. As possibilidades do ser do Dasein
estão intrinsecamente ligadas à aceitação da sua condição de existente, ou
seja, a condição de mortal; é aqui que o ser mediante o seu existir cotidiano,
no dia a dia, assume ou não a sua condição de mortal e decide se eleger como um
ser autêntico ou inautêntico. O homem está aberto à possibilidade de viver
intensamente o presente.
Apresentado o que se refere o neologismo Dasein e pontuadas previamente as
possibilidades inerentes a ele, justifica uma abordagem, a título introdutório,
acerca do que venha a ser a liberdade levando em consideração a aplicabilidade
de seu significado para o desenvolvimento desse capítulo. A concepção de
liberdade aqui explanada traz em sua essência a potencialidade de
transcendência inerente ao homem, ou seja, ao Dasein. Comenta Thomas Ransom Giles o pensamento heideggeriano: “A
transcendência é da própria essência do ser –aí, pois não é tanto o que é, mas
também foi e não é, será o que agora não é. É de alguma maneira uma
possibilidade colocada entre dois nadas, o passado e o futuro.’’ (GILES, apud.
Naves, 2009, p.70). É visível o grau de proximidade acerca da semelhança e a
dependência entre liberdade e o ato de transcender. É a transcendência[1]
que tem por si a capacidade de um rompimento e negação das coisas, o que é
propiciador para um bom uso da liberdade. Pode-se então dizer que há uma
liberdade e uma transcendência no existir projetivo, ou seja, o modo de ser do Dasein impulsionado pela liberdade de
escolha de seu modo de existir é o Dasein
que é lançado como um projeto no mundo, e em meios às possibilidades ele se
integra, uma vez que o existencialismo em si “[...]salienta a subjetividade, a
responsabilidade e a liberdade individual do homem, que este só pode esquecer
por má fé.” (SILVA, 2011, p.38).
Nada nem ninguém podem privar do Dasein essa sua conquista de ser livre,
apesar das manipulações e das interferências do mundo onde ele está inserido.
Ele tem em sua subjetividade um resquício da liberdade, assim, em todas as suas
escolhas e eleições o Dasein é livre.
Mesmo diante das manipulações possíveis o Dasein
é livre.
Por fim, podemos considerar que é mediante
uma reflexão acerca da liberdade que podemos assim situarmos o que seja a vivência
inautêntica ou em terminologia apropriada, a autenticidade, que deve cruzar um
percurso unida assim à consciência (Bewusstsein).
É por meio da consciência que o Dasein
toma a liberdade como parte integrante de seu ser; assim a consciência serve de
orientadora e tem a tarefa de dirigir o
Dasein ao contato e experiência do fenômeno da angústia, fenômeno esse que
abordaremos no próximo tópico, levaremos em consideração a interpretação de
Heidegger frente a influência da angústia sendo ela inerente ao ser do Dasein, é ela que impulsiona o Dasein a confrontar-se com inquietudes
existenciais, podendo assim dar um passo à conferir sentido verdadeiro a sua
vida, veremos como o fenômeno da
angústia pode ser também deturpado, gerando assim um temor da morte, algo que
resultará numa vivência inautêntica.
[1] Segundo Martin Heidegger, o transcender é “relação entre homem (Dasein) e o mundo (...) O que é ultrapassado é própria e unicamente o próprio ente, isto é, qualquer ente que possa ser desvelado ou desvelar-se ao Dasein e, portanto, justamente aquele ente que o Dasein é, enquanto existindo, é ele mesmo.’’ Heidegger, portanto, considera a ‘’transcendência’’ como o significado do ser- no – mundo. Com isso a capacidade de “transcender’’ se refere a própria liberdade do homem perante o seu mundo na realização das possibilidades e projetos seus. (ABBAGNANO: 1982, p.931).
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